Este trabalho pretende oferecer uma introdução à obra de Mario Bellatin e uma leitura do romance Shiki Nagaoka: um nariz de ficção (2001) enquanto expressão relevante do cruzamento de pra?ticas performa?ticas com a escrita litera?ria, por meio de um extenso uso de estratégias intermidiais. Tais procedimentos são parte configuradora da escrita do autor mexicano-peruano - o que se pode observar de forma exemplar no livro em questão. O romance originou-se numa conferência em que, solicitado a falar sobre influências literárias, Bellatin discorreu longamente sobre Shiki Nagaoka, autor de culto japonês, pouco conhecido e muito influente. Entre as obras de Nagaoka, destacam-se "Fotos e Palavras", texto de cabeceira de criadores como Juan Rulfo e Yasujiro Ozu, onde o escritor teoriza sobre a interação entre fotografia, literatura e linguagem. Convidado a seguir oferecendo conferências e artigos sobre o autor japonês, Bellatin publica finalmente sua biografia, acompanhada de um apêndice fotográfico com 25 páginas de registros inéditos. Nada incomum, não fosse Nagaoka uma completa invenção de Bellatin. Ao usar uma inaudita conferência-performance como ponto de partida desse complexo jogo intertextual e intermidial, Bellatin acaba por transformar divisas que separam campos artísticos em zonas fronteiriças e permeáveis, tornando-se um rico objeto de pesquisa para os estudos literários.

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