Esta dissertação tem por objetivo realizar uma leitura andreseniana do romance A caverna [2000], de José Saramago, a partir dos conceitos-síntese de "reino" e "habitat" presentes em "Arte poética I", de Sophia de Mello Breyner Andresen. O primeiro capítulo do trabalho apresenta a revisão da fortuna crítica do romance e o mapeamento dos principais temas investigados a seu respeito, levando em consideração o seu processo de concepção. O segundo capítulo enfoca as "comunidades de resistência" como procedimento literário tipicamente saramaguiano. Tomando como principal referência teórica os estudos de Walter Benjamin [1936] sobre a experiência autêntica (Erfahrung), analisa-se como este valor é fundamental para a união do grupo de personagens da família Algor contra os ataques do "Centro", isto é, o complexo comercial que representa a pós-modernidade na narrativa. O terceiro capítulo confere relevo à abordagem andreseniana do romance através do modelo de investigação proposto por Gagliardi (2018), ao associar dois textos literários nos quais o barro e a simbologia desse elemento primordial ocupam o lugar central. O quarto capítulo aproxima o romance finissecular de dois contos do livro Objecto quase [1978], de Saramago, a partir da ideia de "tempo da recusa", a qual abarca a complexidade da relação dos sujeitos das narrativas com seu presente histórico. Por fim, no capítulo final, associa-se, complementarmente, a noção de habitat com a noção de "fascismo do consumo", presente na crítica corsária de Pier Paolo Pasolini, para examinar mais diretamente os mecanismos políticos, sociais e econômicos retratados em A caverna.

This work examines the novel The cave [2000], by José Saramago, from an andresenian approach based on the key concepts "reino" ("kingdom") and "habitat" present in "Arte poética I", by Sophia de Mello Breyner Andresen. The first chapter provides a literature review of the novel, according to the main themes investigated about it and considering its conception process. The second chapter focuses on the "resistance communities" as a common literary procedure performed by Saramago. The theoretical framework is based upon the studies of Walter Benjamin [1936] on the authentic experience (Erfahrung), and the chapter analyzes how this value is fundamental for the reunion of characters of the Algor family against the threat of the "Center", the shopping mall that represents postmodernity in the narrative. The third chapter highlights the andresenian approach to the novel following the research model proposed by Gagliardi (2018), by associating two literary texts in which clay and the symbology of this primordial element are central. The fourth chapter brings the late-century novel closer to two short stories from Saramago's Objecto quase [1978], based on the idea of "time of refusal", which encompasses the complexity of the relationship between the subjects of the narratives and their historical present. In the final chapter, the notion habitat is associated to the notion of "consumer fascism", present in Pier Paolo Pasolini's corsair critique, to investigate the political, social and economic mechanisms portrayed in The cave.