Este trabalho pretende recolher, organizar e colocar em perspectiva histórica os poemas de Carlos Drummond de Andrade dedicados a seus companheiros de vida literária, erguendo a hipótese, para além do mero tributo circunstancial e do curioso registro das eventuais afinidades eletivas, de que tais homenagens revelam, na diversidade de seu todo, o traço estruturante da amizade e da alteridade na evolução da obra do autor itabirano. Para tanto, partimos de um breve levantamento das percepções públicas e privadas da amizade desde a Antiguidade, procurando relacioná-las à evolução das circunstâncias sociais ao longo do tempo, sobretudo no modernismo, detectando assim os pontos naturais de implicação direta ou indireta dos vínculos afetivos na produção cultural. Destacamos a relevância das amizades em Drummond no contexto de sua produção poética para a identificação, nesses convívios, de linhas de força que tenham resultado efetivamente na construção de sua lírica, não apenas enquanto movimentos estéticos, mas principalmente como base de expressão dos princípios do sujeito moderno, sua recusa, sua hesitação, sua adesão. Ao final, conjecturamos se a amizade expressa ali teria sido apenas um dos moldes para sua obra ou se podemos identificar, nesse perene sentimento-movimento de dialogia, um projeto literário que nos possibilite tomar o fraterno "con-viver", em Drummond, como índice de expressão dos seus modos de subjetivação lírica, pouco explorados por sua fortuna crítica.

This work aims at collecting, organizing, and putting in historical perspective poems by Carlos Drummond de Andrade dedicated to his fellow companions in literary life, building up the hypothesis that, in their diversity and beyond the mere circumstantial praise and curious record of occasional elective affinities, these tributes reveal the structuring trait of friendship and otherness in the development of the work of the author from Itabira. For this purpose, we start with a brief survey of both public and private perceptions of friendship since Ancient times seeking to relate them to the development of social circumstances over time, specially in Modernism, thus detecting the natural points of direct and indirect implications of emotional bonds in cultural production. We highlight the relevance of friendship in Drummond in the context of his poetic production in order to identify in the conviviality the lines of force which effectively resulted in the building of his lyric work, not only as an aesthetic movement, but mainly as basis for the expression of the principles of the modern subject, their refusal, their hesitation, their adhesion. In the end, we conjecture if friendship expressed there was just one of the moldes for his work or if we can identify, in this perennial feeling-movement of dialogism, a literary project that allows us to interpret the fraternal "tog( e/a)ther-ness" in Drummond as an expression of his ways of poetical subjectivity, little explored in his critical fortune.