No começo do século XXI, ao organizar a reedição de todos os livros de Hilda Hilst, Alcir Pécora lamentou que a leitura do texto literário da autora fora, "em certa medida, substituída por um anedotário muito animado, mas francamente mesquinho, como chave de leitura para uma obra complexa e relevante como a sua". Colocava-se, então, um problema teórico: como despir o corpus hilstiano das excentricidades da escritora, que lhe renderam certo status de celebridade ao longo da segunda metade do século XX? A partir da pesquisa no corpus e também em arquivos de periódicos, esta tese resgata várias das anedotas a argumenta que, tanto quanto um obstáculo para a leitura, elas são constituintes da própria obra, que ao longo dos anos foi delineando certo materialismo hilstiano ao qual se agregam, de forma anárquica, textos, paratextos e outros resíduos inclassificáveis

At the beginning of the 21st century, when organizing the reissue of all books by Hilda Hilst, Alcir Pécora lamented that the reading of the author's literary text had been, "to a certain extent, replaced by a very lively, but frankly miserly set of anecdotes, as a reading key for a complex and relevant work such as hers". A theoretical problem then arose: how to strip the Hilstian corpus of the writer's eccentricities, which earned her a certain celebrity status throughout the second half of the 20th century? Based on an investigation of the corpus and also of periodical archives, this doctoral thesis retrieves several of the anecdotes and argues that, as much as they are an obstacle to reading, they are constituents of the work itself, which over the years has outlined a certain Hilstian materialism in which texts, paratexts and other residues have been anarchically assembled