Materializada nos textos (orais ou escritos), a linguagem é o componente social que nos permite interagir com o mundo, com o outro, avaliar e apreciar pessoas, objetos e relatar experiências. Nesta pesquisa, propusemo-nos a compreender de que modo os atores sociais respondem, na carta do leitor, ao discurso circulante sobre um tema de interesse social, a reforma da Previdência. Sobre esse tema, concorrem interesses políticos e do mercado baseados em medidas neoliberais, de um lado, e o interesse da população, de outro. Nesse campo de interesses divergentes, motivou-nos pesquisar como os atores sociais avaliavam e se posicionavam sobre a reforma, constituindo-se como nosso objetivo geral. Os objetivos específicos constituem-se em: 1) identificar os discursos que circulam e sustentam esses posicionamentos; 2) compreender quais recursos linguísticos avaliativos são usados de modo relevante; 3) compreender como se configura o engajamento do leitor-autor em relação aos discursos e às construções das perspectivas que ele produz sobre o tema, em relação aos discursos circulantes e na negociação intersubjetiva de seu posicionamento com outros leitores. Nossa hipótese foi de que o Sistema da AVALIATIVIDADE de Martin; White (2005) pudesse ser uma ferramenta útil para depreender o nível de responsividade na avaliação e no posicionamento do leitor sobre o tema da reforma, constituindo-se como nossa categoria de análise. O corpus deste trabalho concentra-se no gênero Carta do leitor, do qual analisamos 45 cartas que respondiam ao tema da reforma. Os dados foram tratados via Sistema UAM Corpus Tool versão 3.3, de O`Donnell (2019). Este estudo pautou-se na Análise Crítica do Discurso, por Fairclough (1995; 2001; 2004); em Thompson (2011 [1990]; 2014 [1995]), no que compete aos conceitos de ideologia, relações de poder e formas simbólicas; em Charaudeau (2013), referente ao discurso da mídia e ao discurso político e nas noções de dialogismo, heteroglossia, compreensão e atitude responsiva, de Bakhtin (2003 [1979]) e de Bakhtin; Volóchinov (2006 [1895-1975]). Os resultados gerados pelo uso do Sistema da AVALIATIVIDADE confirmam que ele se mostrou como um Sistema útil para compreendermos as formas de avaliação e de engajamento do leitor sobre o tema, por ajudar a sistematizar os recursos linguísticos usados em tais avaliações e por permitir compreender os recursos implícitos no texto que indicam as avaliações do leitor, categorizados por meio de seus subsistemas. O uso predominante do engajamento monoglóssico e contrativo, independentemente do posicionamento adotado, forneceu-nos indícios de que o padrão responsivo do leitor-autor prima por restringir, contestar e simular o apagamento de outras perspectivas em face do tema da reforma. A responsividade do leitor-autor de posicionamento "contra" e de "aceitação parcial" é sustentada por discursos circulantes semelhantes no que compete a não aceitação da proposta do governo para a reforma e diferem no fato de aceitarem (de "aceitação parcial") ou não ("contra") a necessidade da reforma. Ambos diferem significativamente dos pontos de discussão trazidos nas cartas "a favor". Para o posicionamento favorável à reforma, a base de preocupação trazida é de ordem econômica e o leitor engaja-se de modo alinhado aos discursos do governo. Neste, o espaço de responsividade foi relevantemente marcado por discursos que sustentam as ideologias dominantes, reproduzindo as relações de poder e as ideias neoliberais que cercam o tema da reforma. Já nos tipos "contra" e de "aceitação parcial", os espaços de responsividade foram predominantemente marcados por discursos contestatórios críticos, nos quais há um engajamento não solidário ao discurso do governo. No posicionamento de "aceitação parcial", há a abertura para que seja feita uma reforma que leve em conta questões diversas da realidade do mercado de emprego, das condições de vida e saúde das pessoas. Portanto, esses valores mobilizados nos posicionamentos "contra" e de "aceitação parcial" foram sustentados por discursos circulantes que entendem que a Previdência Social deve manter os ideais pelos quais foi instituída no Brasil, preservando os direitos de proteção social garantidos pela Constituição de 1988.

Materialized in texts (oral or written), language is the social component that allows us to interact with the world, with the other, to evaluate and appreciate people, objects, and to relate experiences. In this research, we proposed to understand how social actors respond, in the reader's letter, to the circulating discourse about a theme of social interest, the reform of the Social Security. On this issue, political and market interests based on neo-liberal measures compete on the one hand and the interest of the population on the other. In that field of divergent interests, it motivated us to research how social actors assessed and positioned themselves on reform, constituting our overall objective. The specific objectives are: 1) to identify the discourses that circulate and sustain these positions; 2) to understand which evaluative linguistic resources are used in a relevant way; 3) to understand how the reader-author's engagement is configured in relation to the discourses and the constructions of the perspectives that he or she produces on the subject, in relation to the circulating discourses and in the intersubjective negotiation of his or her position with other readers. Our hypothesis was that Martin; White (2005)'s EVALUATION System could be a useful tool to understand the level of responsiveness in the evaluation and the reader's position on the subject of the reform, what constituted our category of analysis. The corpus of this work focuses on the reader's letter genre, from which we analysed 45 letters responding to the Reform theme. The data were processed via the UAM Corpus Tool version 3.3 system of O'Donnell (2019). This study was based on Fairclough's Critical Discourse Analysis (1995; 2001; 2004); in Thompson (2011 [1990]; 2014 [1995]), regarding the concepts of ideology, power relations and symbolic forms; in Charaudeau (2013), regarding media discourse and political discourse and the notions of dialogue, heteroglossy, understanding and responsive attitude, by Bakhtin (2003 [1979]) and Bakhtin; Volóchinov (2006 [1895-1975]). The results generated by the use of the EVALUATION system confirm that it has proven to be a useful system for understanding the reader's ways of evaluating and engaging on the topic, by helping to systematise the language resources used in such evaluations and by enabling us to understand the resources implicit in the text that indicate the reader's evaluations, and can be categorised through their subsystems. The predominant use of monoglossic and contractive engagement, regardless of the positioning adopted, has provided us with evidence that the responsive pattern of the reader-author primes for restricting, challenging and simulating the erasure of other perspectives on the subject of reform. The responsiveness of the reader-author of "against" and "partial acceptance" positions is underpinned by similar circulating discourses on whether the government's proposal for reform should not be accepted and on whether they accept (of "partial acceptance") or not ("against") the need for reform. Both differ significantly from the points of discussion in the "pro" letters. For the pro-reform position, the basis of concern brought is economic and the reader engages in a manner aligned with the government's speeches. In this one, the space of responsiveness has been significantly marked by discourses that sustain the dominant ideologies, reproducing the power relations and neoliberal ideas that surround the theme of reform. In the "against" and "partial acceptance" types, the spaces of responsiveness were predominantly marked by critical adversarial discourses, in which there is a non-solidarity commitment to the government's discourse. In the position of "partial acceptance", there is an openness to reform that takes into account diverse issues of the reality of the employment market, of people's living conditions and health. Therefore, these values mobilized in the "against" and "partial acceptance" positions were supported by circulating discourses that understand that Social Security must maintain the ideals for which it was instituted in Brazil, preserving the social protection rights guaranteed by the 1988 Constitution.