Em um contexto de transformações no movimento de acumulação capitalista, especialmente pós-crise financeira de 2008, cujos efeitos aprofundaram o padrão exportador de especialização produtiva da economia brasileira, assistiu-se, no início deste século, a construção das duas maiores fábricas de celulose do mundo no estado de Mato Grosso do Sul: a Fibria-MS Celulose e a Eldorado Brasil. Uma década depois do início das operações da Fibria em 2009, o estado se tornou o principal exportador de celulose do país e responsável por 22,2% da produção nacional, sendo que, para suprir a demanda por matéria prima, durante o referido período, a área plantada com eucalipto, no estado, foi de 290,8 mil para 1,1 milhão de hectares. Essa expansão tem deixado diferentes grupos sociais, que vivem no/do campo, ilhados em meio aos plantios de eucalipto. Diante desse cenário, a presente tese teve como objetivo compreender o processo de territorialização do setor de celulose na porção Nordeste do estado de Mato Grosso do Sul, com ênfase na intervenção político-ideológica realizada pela Fibria nas diferentes frações do território por meio de programas e projetos socioambientais implementados nas comunidades localizadas no entorno das áreas com plantios de eucalipto da empresa. Para tanto, buscou-se analisar, neste processo, o papel desempenhado pelo Estado (via BNDES e fundo público) e pela sociedade civil empresarial (via institutos e fundações), além dos aspectos ideológicos, políticos e econômicos ligados à intervenção da Fibria e seus respectivos desdobramentos sobre os sujeitos por ela atingidos. A pesquisa teve como recorte histórico-analítico e político-econômico os governos petistas, período no qual o setor de celulose ampliou a escala de suas operações, expandindo-se para novas áreas situadas, principalmente, no interior do país, como é o caso sob análise. Dessa forma, também foi realizado um esforço teórico-metodológico com a finalidade de compreender a economia política desses governos, isto é, as transformações político-econômicas conjunturais ocorridas no âmbito do Estado e da sociedade civil, bem como as alianças e os conflitos de classes. Os resultados alcançados pela pesquisa permitem defender a tese de que a expansão do setor de celulose no estado analisado, nesse início de século, viabilizou-se por meio de uma forma de dominação de classes com bases socioterritoriais - resultante de um período marcado pela consolidação da hegemonia burguesa neoliberal no Brasil - que, apesar de combinar o uso da força com a (re)produção de consensos, teve como elemento predominante e essencial a educação das classes subalternas para o consenso frente a tal processo. Por fim, é importante destacar que esse consenso não significou a harmonização das relações sociais de produção, nem a redução de seus impactos socioambientais e territoriais, pelo contrário, permitiu ao setor se expandir para novas áreas, ampliando e intensificando os processos de expropriação e exploração/degradação da natureza.

In a context of transformations in the movement of capitalist accumulation, especially after the 2008 financial crisis, whose effects deepened the export pattern of productive specialization in the Brazilian economy, at the beginning of this century, the construction of the two largest pulp mills in the world was witnessed in the state of Mato Grosso do Sul: Fibria-MS Celulose and Eldorado Brasil. A decade after the start of Fibria's operations in 2009, the state became the main pulp exporter in the country and was responsible for 22.2% of the national production, in this way, to supply the demand for raw material, during the referred period, the area planted with eucalyptus in the state increased from 290.8 thousand to 1.1 million hectares. This expansion has left different social groups living in/from the countryside isolated in the midst of eucalyptus plantations. In this scenario, the present thesis aimed to understand the process of territorialization of the pulp sector in the northeast portion of the state of Mato Grosso do Sul, with emphasis on the political-ideological intervention carried out by Fibria in different fractions of the territory through programs and socio-environmental projects implemented in communities located around the company's eucalyptus plantations. To this end, we sought to analyze, in this process, the role played by the State (via BNDES and public funds) and by business civil society (via institutes and foundations), in addition to the ideological, political and economic aspects linked to the intervention of Fibria and its respective developments on the subjects affected by it. The research had as its historical-analytical and political-economic cut the PT governments, a period in which the pulp sector expanded the scale of its operations, expanding into new areas located mainly in the interior of the country, as is the case under analysis. In this way, a theoretical-methodological effort was also carried out in order to understand the political economy of these governments, that is, the conjunctural political-economic transformations that occurred within the State and civil society, as well as the alliances and class conflicts. The results achieved by the research allow us to defend the thesis that the expansion of the pulp sector in the analyzed state, at the beginning of this century, was made possible through a form of class domination with socio-territorial bases - resulting from a period marked by the consolidation of the neoliberal bourgeois hegemony in Brazil - which, despite combining the use of force with the (re)production of consensus, had as its predominant and essential element the education of the subaltern classes for consensus in the face of such a process. Finally, it is important to highlight that this consensus did not mean the harmonization of social relations of production, nor the reduction of their socio-environmental and territorial impacts, on the contrary, it allowed the sector to expand into new areas, expanding and intensifying the processes of expropriation and exploitation/degradation of nature.