O primeiro capítulo, O Cenário, é um passeio pelas ruas, vielas e becos de Acari, uma favela carioca, lançando um primeiro e opaco olhar sobre os seus símbolos. Aqui, como de resto em toda a tese, as fotos não são ilustrações e sim parte do texto a ser lido. O capítulo seguinte tenta descrever analiticamente como funciona o bicho de sete cabeças, os entrelaçamentos, contradições e alianças entre os diversos poderes locais e supra-locais. Explico que Acari, na verdade, é composta de três favelas e um conjunto habitacional, quatro localidades, cada uma com uma história própria, refletida em uma lógica identitária específica expressa em inúmeras fronteiras simbólicas. Procuro salientar a existência de micro-áreas no interior de cada uma dessas comunidades (termo nativo). Azuis, verdes, vermelhos..., o terceiro capítulo, tenta desnudar a lógica e a construção de um imaginário (em que os jornais populares desempenham papel importante) da guerra entre facções, mostrando de que forma policiais e traficantes espelham-se uns nos outros. Os líderes comunitários, sua função de mediadores entre diversas instâncias, inclusive o tráfico, suas relações com os políticos em campanha eleitoral, com as agências governamentais em geral, eis o tema do quarto capítulo, Presidentes. Exército de Anjos aborda o campo religioso existente em Acari, procurando, ao lado de um panorama geral, enfatizar o significado da conversão às igrejas neopentecostais, sobretudo por parte de pessoas antes ligadas a atividades criminosas; tentarei traçar um quadro do ethos e da visão de mundo proposta pelas igrejas atuantes em Acari. O capítulo seis, Homens e meninos, faz um pequeno apanhado histórico das relações da comunidade com as quadrilhas de traficantes, destacando as representações acerca de determinados chefes do tráfico como Cy, Tonicão, Jorge Luiz e Parazão, mostrando que as idéias de honra, hierarquia e reciprocidade são fundamentais neste processo contínuo de renegociação de papéis e espaços. Tentaremos mostrar momentos de relativo equilíbrio e de ruptura entre a comunidade e o tráfico. Deus e o Diabo na terra de Acari, o sétimo e último capítulo, é uma interpretação dos símbolos acarianos, tentando costurar, à moda do rapsodo, questões levantadas ao longo do texto.

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