Nesta tese, busquei analisar a formação e dinâmica social de uma ocupação urbana em São Paulo que abrigou famílias de refugiados palestinos do conflito sírio a partir dos entrecruzamentos de redes solidárias de movimentos sociais e ONGs em conjunturas de visibilidade política específicas, tanto locais quanto internacionais. No bojo da midiatização da crise humanitária na Síria, as famílias palestinas passaram a ser enquadradas (BUTLER, 2015) como vulneráveis, passíveis de ajuda e interesse ético-político. Considerei o impacto da visibilização do refúgio causado pelo conflito sírio na ocupação Leila Khaled, bem como nos modos de participação, socialidades e percepção dessas famílias, bem como as formas de solidariedade políticas e humanitárias. Por um lado, a visibilidade projetou a ocupação publicamente, gerando o engajamento de redes solidárias (esquerda, organizações civis e poder público) com as famílias palestinas, gerando um desequilíbrio interno na ocupação, haja vista que as famílias brasileiras não recebiam a mesma atenção. Ao mesmo tempo, esses enquadramentos de guerra por sua vez, não coincidem com os modos de apresentação e percepção de si dos palestinos, modeladas nas experiências de refúgio palestino ao longo de 70 anos, que mobilizam as imagens de uma relação vital com a terra ancestral, memória e ideias sobre família e na força contida em seu sangue. Meu objetivo foi compreender os termos que embasam e articulam essas percepções, como eles impactam e produzem essas socialidades, as formas políticas e econômicas de participação e convivência, na organização de espaços político-culturais, nas articulações políticas junto a movimentos sociais, na produção e comercialização de alimentos, e na relação de vizinhança entre famílias palestinas. Minha hipótese inicial é que a publicização do refúgio, ao passo que limitou os atores ao papel de refugiados segundo uma lógica humanitária, viabilizou uma percepção positiva das populações árabes e muçulmanas entre brasileiros. Ao decorrer da pesquisa, pude observar a ampliação de redes e conexões solidárias, criação de procedimentos novos para lidar com a diferença (étnica, cultural, linguística, política) e também o desenvolvimento de uma sensibilidade em relação ao refúgio. Ao mesmo tempo, observaram-se conflitos, rupturas, desconfianças emergirem com a mesma força, revelando a trama complexa das formas de acolhida de populações refugiadas no Brasil, e como essas populações respondiam às mesmas

In this thesis, I sought to analyze the formation and social dynamics of an urban occupation in São Paulo that housed Palestinian refugee families from the Syrian conflict based on the intersections of solidarity networks of social movements and NGOs in specific political visibility conjunctures, both local and international. In the midst of the mediatization of the humanitarian crisis in Syria, Palestinian families began to be framed (BUTLER, 2015) as vulnerable, subject to help and ethical-political interest. I considered the impact of the visibility of the refuge caused by the Syrian conflict in the Leila Khaled occupation, as well as in the ways of participation, socialities and perception of these families, as well as the forms of political and humanitarian solidarity. On the one hand, visibility projected the occupation publicly, generating the engagement of solidarity networks (left, civil organizations and public authorities) with Palestinian families, generating an internal imbalance in the occupation, given that Brazilian families did not receive the same attention. At the same time, these war frameworks, in turn, do not coincide with the Palestinians modes of presentation and self-perception, modeled on Palestinian refugee experiences over 70 years, which mobilize images of a vital relationship with the ancestral land, memory and ideas about family and the strength contained in their blood. My objective was to understand the terms that underlie and articulate these perceptions, how they impact and produce these socialities, the political and economic forms of participation and coexistence, in the organization of political-cultural spaces, in political articulations with social movements, in the production and food marketing, and in the neighborhood relationship between Palestinian families. My initial hypothesis is that publicizing the refuge, while limiting the actors to the role of refugees according to a humanitarian logic, enabled a positive perception of the Arab and Muslim populations among Brazilians. During the research, I was able to observe the expansion of solidarity networks and connections, the creation of new procedures to deal with difference (ethnic, cultural, linguistic, political) and also the development of a sensitivity towards refuge. At the same time, conflicts, ruptures and mistrust emerged with the same force, revealing the complex fabric of the forms of reception of refugee populations in Brazil, and how these populations responded to them