Esta dissertação busca compreender o contexto social no qual ocorre o suicídio de homens cisgêneros homossexuais no Brasil. Para tanto, fizemos uso de metodologia mista, em primeiro lugar aplicando survey online destinado à supracitada população (que já havia tentado contra sua própria vida) perguntando aos respondentes temas discutidos na literatura de nosso fenômeno de interesse, e em um segundo momento, entrevistando aqueles participantes que manifestaram o desejo de continuar a fazer parte da pesquisa, ao fim do referido survey. Foram coletadas 84 respostas no questionário online, além de 11 entrevistas semi-estruturadas com homens cis gays que haviam tentado ao menos uma vez em suas vidas o suicídio. Com base nesses dados, buscou-se delinear as relações sociais e as instituições das quais nossos sujeitos de pesquisa faziam parte no momento em que buscaram por fim às suas vidas, tecendo a partir dessa reconstrução de suas histórias sociais os motivos que os levaram a essa decisão extrema. Essa tentativa de explicar o fenômeno vai de encontro às formas hegemônicas empregadas no debate acadêmico voltado a esse problema de pesquisa, baseadas de maneira quase que exclusiva em lógicas quantitativas de coleta e análise de dados. De maneira mais importante, nossa interpretação do fenômeno em questão diverge dessas análises ao fazer uso de aparatos teóricos já consagrados, porém apenas recentemente postos no meio deste debate, a saber, o poder das normas sexuais sobre sujeitos não enquadrados nas categorias binárias da heterossexualidade.

This dissertation seeks to understand the social context in which homosexual cisgender men commit suicide in Brazil. To this end, we used a mixed methodology, firstly applying an online survey aimed at the aforementioned population (which had already tried against their own lives) by asking respondents about topics discussed in the literature of our phenomenon of interest, and secondly, interviewing those participants who expressed the desire to continue to be part of the research, at the end of the applied survey. We collected 84 responses on the online questionnaire, in addition to 11 semi-structured interviews with cis gay men who had attempted suicide at least once in their lives. Based on these data, we sought to delineate the social relations and institutions of which our research subjects belonged to at the time they sought to end their lives, weaving from this reconstruction of their social histories the reasons that led them to this extreme decision. This attempt to explain the phenomenon goes against the hegemonic forms used of the academic debate focused on this research problem, based almost exclusively on quantitative logics of data collection and analysis. More importantly, our interpretation of the phenomenon in question diverges from those analysis by making use of already established theoretical apparatus, that has only recently been discussed in this debate, namely, the power of sexual norms over subjects not identified in the binary categories of heterosexuality.