A Psicogenética de Henri Wallon é uma teoria que amplia e reconstrói a compreensão sobre o desenvolvimento humano, ao investigá-lo de maneira concreta, completa e contextualizada nos domínios cognitivos, afetivos e motores por meio do Materialismo Histórico-Dialético. Alguns trabalhos de Wallon chegaram ao Brasil antes da Segunda Guerra Mundial, porém a difusão da teoria iniciou, de fato, a partir da década de 1970, com a tradução de artigos científicos e livros do autor. Nas décadas seguintes, formaram-se os primeiros grupos de estudos e realizaram-se os primeiros seminários e pesquisas. No entanto, levantamentos bibliográficos mostram que a teoria possui restrita difusão no país, havendo poucos estudos e publicações que utilizam a abordagem como principal ou único referencial teórico. A pesquisa parte do pressuposto de que conhecer o que pensam pesquisadores/as wallonianos/as sobre esse cenário pode contribuir para elucidar os determinantes envolvidos na sua produção. Assim, teve o objetivo geral de compreender as múltiplas determinações que promovem ou prejudicam a difusão da Psicogenética Walloniana no contexto científico brasileiro, a partir dos significados sobre esse processo atribuídos por pesquisadores/as identificados/as com tal perspectiva teórica. A construção do material empírico ocorreu por meio de entrevistas com 12 pesquisadores/as que se fundamentam na abordagem walloniana há, no mínimo, cinco anos. A abordagem da pesquisa foi qualitativa e teve como referencial teórico-metodológico a Psicologia Histórico-Cultural vigotskiana. O material foi analisado de forma a sistematizar categorias que representam os determinantes que promovem ou prejudicam a difusão, além de construir um diagrama sócio-histórico que aponta os/as principais pesquisadores/as, universidades e grupos de estudos envolvidos/as nesse processo, assim como as relações entre eles/as. Os resultados indicam que há quatro determinantes principais que promovem a difusão da teoria de Wallon no país: (1) potência dialógica e investigativa da teoria para a prática de pesquisa; (2) embasamento teórico-metodológico para a prática pedagógica; (3) conexão com outros/as pesquisadores/as; e (4) identificação com a vida e a obra de Wallon. Em contrapartida, seis aparecem como aqueles que prejudicam a difusão, agindo como um círculo vicioso: (1) inexistência de rede estruturada de pesquisadores/as; (2) ausência na formação inicial e continuada; (3) jogo da incidência teórica nas políticas educacionais e para a infância; (4) a natureza complexa e datada da teoria; (5) a visão hegemônica racionalista na Psicologia e na Educação; (6) a geopolítica do conhecimento e o domínio da língua inglesa. Os/as participantes significam como determinantes com maior presença e força aqueles que prejudicam a difusão, resultando em um cenário de baixa divulgação no Brasil atualmente. Sobrevivendo a essa condição, encontram, na Psicogenética Walloniana, um embasamento teórico necessário e potente para orientar suas atuações enquanto pesquisadores/as e também para as práticas psicológicas e pedagógicas que consideram o desenvolvimento integral e contextualizado dos sujeitos. Os resultados indicam ainda a necessidade de ocupação de espaços acadêmicos para que a teoria possa se manter, de alguma forma, atual, renovada e sensível às condições contemporâneas de desenvolvimento humano e de produção do conhecimento.

Henri Wallon's Psychogenetics is a theory that expands and rebuilds the understanding of human development, by investigating it in a concrete, complete and contextualized way in the cognitive, affective and motor domains through Historical-Dialectic Materialism. Some of Wallon's works arrived in Brazil before the Second World War, but the diffusion of the theory began, in fact, from the 1970s, with the translation of scientific articles and books by the author. In the following decades, the first study groups were formed and the first seminars and research took place. However, bibliographical surveys show that the theory has restricted dissemination in the country, with few studies and publications that use the approach as the main or only theoretical reference. The research starts from the assumption that knowing what Wallonian researchers think about this scenario can contribute to elucidate the determinants involved in its production. Thus, it had the general objective of understanding the multiple determinations that promote or hinder the dissemination of Wallonian Psychogenetics in the Brazilian scientific context, based on the meanings about this process attributed by researchers identified with such a theoretical perspective. The construction of the empirical material took place through interviews with 12 researchers who have been based on the Wallonian approach for at least five years. The research approach was qualitative and had Vigotskian Historical-Cultural Psychology as a theoretical-methodological framework. The material was analyzed to systematize categories that represent the determinants that promote or hinder dissemination, in addition to constructing a socio-historical diagram that points out the main researchers, universities and study groups involved in this process, as well as as the relationships between them. The results indicate that there are four main determinants that promote the dissemination of Wallon's theory in the country: (1) dialogical and investigative power of the theory for research practice; (2) theoretical-methodological basis for pedagogical practice; (3) connection with other researchers; and (4) identification with Wallon's life and work. On the other hand, six appear as those that hinder dissemination, acting as a vicious circle: (1) lack of structured network of researchers; (2) absence from initial and continuing training; (3) game of theoretical incidence in educational and childhood policies; (4) the complex and dated nature of the theory; (5) the hegemonic rationalist view in Psychology and Education; (6) the geopolitics of knowledge and the dominance of the English language. The participants mean as determinants with greater presence and strength those that hinder the dissemination, resulting in a scenario of low disclosure in Brazil today. Surviving this condition, they find, in Wallonian Psychogenetics, a necessary and powerful theoretical foundation to guide their actions as researchers and also for psychological and pedagogical practices that consider the integral and contextualized development of the subjects. The results also indicate the need to occupy academic spaces so that theory can remain, in some way, current, renewed and sensitive to contemporary conditions of human development and knowledge production.