Esta tese aborda a questão da transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental. Aborda como problema de pesquisa quais são as expectativas, quais conhecimentos as crianças revelam sobre o movimento de saída da educação infantil e chegada a um novo espaço. A pesquisa procurou compreender como as crianças, do período final da educação infantil, narram suas expectativas quanto ao movimento de transição para o ensino fundamental. Os objetivos específicos foram: analisar as narrativas infantis de modo a desvelar elementos que potencializam ou dificultam uma transição integrada e geradora de aprendizagens; trazer subsídios para se pensar, do ponto de vista curricular, práticas de integração que pudessem ser assimiladas pelos contextos educativos. A compreensão de transição adotada na pesquisa se relaciona à concepção de transições ecológicas (BRONFENBRENNER, 1996) e a base de argumentação com a Pedagogia-em-Participação (FORMOSINHO, OLIVEIRA-FORMOSINHO 2011, 2016) que valoriza processos educacionais participativos, sustenta a concepção de uma criança competente e ativa, que nas relações com adultos sensíveis e com seus pares podem ter experiências significativas, sendo partícipes e corresponsáveis pelo seu desenvolvimento e pelas suas aprendizagens. Assentada nessa compreensão é que a investigação buscou dar lugar às crianças, para ouvir suas vozes e experienciar momentos junto com elas. Isso foi feito durante o ano de 2019, em um estudo de campo que adotou como orientação metodológica a etnografia com crianças (GRAUE; WALSH, 2003), de modo a captar seus pontos de vista acerca de suas expectativas e sentimentos. Para tanto foi preciso criatividade no processo de geração de dados e várias estratégias foram compostas. Vale a ressalva de que em relação às crianças, o assentimento (FERREIRA, 2010), ou seja, a decisão em relação a sua participação na pesquisa ocorreu a cada proposta. A pesquisa foi realizada em duas realidades: uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) dentro de um Centro de Educação Unificado (CEU) e uma Independente, fora do CEU, nos agrupamentos do segundo ciclo. O estudo evidenciou a ausência no tratamento do tema da transição entre as crianças das Unidades Educativas pesquisadas, que têm o imaginário composto a partir das poucas informações obtidas pelas falas de familiares em seus contextos sociais, o que compõe uma base rasa e incapaz de apoiar suas expectativas e sentimentos. As vivências a partir das estratégias de pesquisa se apresentaram como espaços onde foram constituindo um repertório sobre a transição. Suas expectativas e sentimentos revelaram-se ambíguos, a vontade de permanecer no contexto imediato, familiar e o desejo em extrapolá-lo conectado ao desejo de se tornar grande. É imperativo que estratégias de transição sejam planejadas, dialogadas e inseridas nos projetos das instituições tanto de educação infantil quanto de ensino fundamental, para que o diálogo sobre esse movimento faça parte das rodas de conversa e experimentações e as crianças encontrem espaço para expor o que pensam, sentem e sejam apoiadas em seus processos, de forma a viverem a continuidade dos processos e uma organização pedagógica e institucional que preserve as infâncias.

This thesis addresses the question of the transition from Early Childhood Education to Elementary Education. It addresses as a research problem what are the expectations, what knowledge do children reveal about the movement out of early childhood education and arrival in a new space. The research sought to understand how children, in the final period of kindergarten, narrate their expectations regarding the transition to elementary school. The specific objectives were: to analyze children's narratives in order to reveal elements that enhance or hinder an integrated transition that generates learning; bring subsidies to think, from the curricular point of view, integration practices that could be assimilated by the educational contexts. The understanding of transition adopted in the research is related to the conception of ecological transitions (BRONFENBRENNER, 1996) and the basis of argumentation with Pedagogy-in-Participation (FORMOSINHO, OLIVEIRAFORMOSINHO 2011, 2016) which values participatory educational processes, supports the conception of a competent and active child, who in relationships with sensitive adults and with their peers can have significant experiences, being participants and co-responsible for their development and learning. Based on this understanding, the investigation sought to make room for children to hear their voices and experience moments together with them. This was done during 2019, in a field study that adopted ethnography with children as methodological guidance (GRAUE; WALSH, 2003), in order to capture their points of view regarding their expectations and feelings. Therefore, creativity was needed in the data generation process and several strategies were composed. It is worth noting that in relation to children, assent (FERREIRA, 2010), that is, the decision regarding their participation in the research occurred with each proposal. The research was carried out in two realities: a Municipal School of Early Childhood Education (EMEI) within a Unified Education Center (CEU) and an Independent one, outside the CEU, in the second cycle groups. The study showed the lack of treatment of the theme of transition among the children of the researched Educational Units, whose imagination is composed from the little information obtained from the speeches of family members in their social contexts, which makes up a shallow base and incapable of supporting their expectations and feelings. The experiences from the research strategies were presented as spaces where they constituted a repertoire on the transition. Their expectations and feelings turned out to be ambiguous, their desire to remain in the immediate, familiar context and their desire to go beyond it connected to the desire to become great. It is imperative that transition strategies be planned, discussed and included in the projects of both early childhood education and elementary education institutions, so that dialogue about this movement becomes part of the conversation and experimentation circles and children find space to expose what they think, feel and are supported in their processes, in order to experience the continuity of processes and a pedagogical and institutional organization that preserves childhood.