Esta tese de doutorado toma como objeto a série televisiva estadunidense Mad Men (Matthew Weiner, AMC, 2007-2015), tendo como norte analítico principal a percepção de que a obra comenta o seu presente a partir do passado da sua diegese. Serão analisadas aqui sua estrutura narrativa, suas representações de gênero, e suas relações com a memória cultural dos Estados Unidos e com o próprio meio televisivo. Dessa forma, o trabalho se inicia analisando o duplo papel que o modo melodramático cumpre na série, tanto na sua estrutura quanto por alusão a um gênero específico, o melodrama doméstico dos anos 1950. Essa definição ajudará a melhor compreender como o protagonista da série, Don Draper, sintetiza os discursos ansiosos em torno da masculinidade estadunidense no pós-guerra, e, em sua própria performance desse modelo, destaca a performatividade inerente aos modelos sociais de gênero que aflige homens tanto no passado que retrata quanto no presente em que vai ao ar. Em seguida, a tese se debruça sobre a relação entre História e trama que entra em cena na série a partir de referências culturais e históricas da década de 1960, período em que se passa sua diegese. Os usos dessas referências por Mad Men dizem muito sobre como a série quer se posicionar frente à memória cultural daquela década, como ela quer trabalhar com ela e se legitimar por meio daquilo que cita em cena. Por fim, este trabalho termina tratando da relação que a série estabelece com a própria televisão, retratando tanto uma geração que aprende a viver com o meio quanto uma televisão que chega à sua maturidade, que amadurece os diferentes papéis que ela pode assumir frente à sociedade. Mas Mad Men também usa desse retrato de época para comentar sobre seu próprio modelo de televisão, sobre a indústria televisiva no momento em que vai ao ar, e sobre sua própria produção. E por estar historicamente localizada na passagem da distribuição por cabo para a distribuição por streaming online, acaba por também dar um ponto final a um momento da história desse meio.

This thesis takes as its object the American television series Mad Men (Matthew Weiner, AMC, 2007-2015), having as its main analytical North the argument that it comments its present through the past of its diegesis. It will analyze the series' narrative structure, its gender representations, and its relations with both the cultural memory in the United States and its own televisual medium. This way, the thesis starts by analyzing the dual presence of the melodramatic mode in the series, in its structure and by allusion to a specific genre, the 1950s domestic melodrama. This definition will help to better understand how the show's main protagonist, Don Draper, embodies the anxious discourses around American masculinity after World War II, and, in his very performance, highlights the inherent performativity of social models of gender that afflicts men both in the past it represents and in the present in which it airs. Afterwards, I analyze the relationship between History and story that is enacted in the show through cultural and historical references from the 1960s, the period portrayed in its narrative. Mad Men's use of these references says a lot about how the show would like to be positioned in relation to the cultural memory of that decade, how it wants to work with it and be legitimized by what it quotes in scene. At last, this thesis ends by talking about the relationship the show establishes with television per se, portraying both a generation that learns to live with the medium and a television that comes of age, that realizes the different roles that it may assume in relation to society. But Mad Men also uses this portrayal of the past to comment on its own model of television, on its very production and the television industry that produces it. And by being historically positioned between cable television and online streaming, it also ends a moment of the medium's history.