A pesquisa observa a produção contemporânea do centro de São Paulo a partir das tensões, disputas e eventuais negociações entre os atores hegemônicos empenhados na sua valorização e personagens não tão poderosos que existem e resistem nesse mesmo território, reivindicam à sua maneira a cidade como valor de uso e rejeitam nas suas práticas o imperativo da mercantilização de tudo. A tese apresentada é de que centros diferentes são imaginados, enunciados, vividos e, enfm, também produzidos por estes personagens contrapostos; centros que ora se sobrepõem espacialmente, ora entram em confito. Como caminho metodológico, acompanho a produção do espaço e dos discursos sobre o centro de São Paulo nesse princípio de século: pelos projetos públicos de transformação urbana, pela atuação do capital imobiliário e pelas práticas socioespaciais divergentes que por ali se multiplicam. Os capítulos estão organizados de modo a entremear ideações concorrentes. O primeiro capítulo relembra a formação do centro, das grandes obras burguesas de embelezamento do início do século 20 às recentes soluções neoliberais para a transformação urbana, passando pelas várias mutações nesse território, do esvaziamento à retomada; uma história que se apresenta desde o princípio marcada pela supressão das condições e usos existentes e da imposição de modelos colonialistas. No segundo capítulo, já no tempo presente, refito sobre feituras contra-egemônicas do centro a partir das experimentações de personagens minoritários - em festas e festivais de rua, ocupações artísticas e, particularmente, nas experiências do Terreyro Coreográfco e do Teatro Ofcina. O terceiro capítulo desvenda as formas e os conteúdos da atividade imobiliária contemporânea no centro, expondo como procuram capitalizar sobre signifcados criados socialmente, convertendo modos de vida em renda de monopólio. Evidencia, ainda, como o crescente domínio do capital fnanceiro sobre a produção residencial destitui o sentido de moradia das novas unidades, construídas cada vez mais como produtos de investimento. No quarto e último capítulo, capital imobiliário e personagens divergentes enfm se enfrentam em torno do destino de um terreno de mata nativa na região central, obrigando os vários braços do Estado a uma mediação pouco usual entre o direito de propriedade e o direito coletivo a um comum. O acontecimento Parque Augusta reúne as principais questões dos capítulos anteriores e aponta para um possível, um urbanismo cosmopolítico, a cidade por vir.

Tis research follows the current production of São Paulo's city center, looking at the tensions, struggles and occasional negotiations between hegemonic players engaged in its rentability, and not-so-powerful actors that exist and resist on this same territory, reclaiming on their own terms the city as use-value and rejecting through their everyday practices the imperative of "the commodifcation of everything". Te thesis claim is that diferent city centers are imagined, articulated, experienced, and also produced by these juxtaposed characters; city centers that at times geographically overlap, and are at times in confict. As a methodological path, I follow the production of space and discourse-building around São Paulo's city center at this century's dawn: through urban projects, real estate activity and the divergent socio-spatial practices that arise. Te frst chapter recollects the city center's formation, from the great bourgeois beautifying constructions at the beginning of the 20th century to latter neoliberal solutions for urban transformation, passing through the territory's numerous mutations, from its decay to its supposed "renewal"; a history that is, since its early days, characterized by the suppression of existing conditions and usages for the imposition of colonizing models of urban development. In Chapter 2 I refect on current counter-hegemonic city-makings by minoritarian characters - through street festivals, artistic squats and, particularly, through artistic urban experiences of Terreyro Coregráfco and Teatro Ofcina. Chapter 3 unveils the means and contents in the current real state activity in this region, disclosing how it capitalizes on collectively built meanings, transforming ways of life in monopoly rent. It illustrates, moreover, how fnancial capital's rising control over residential production detaches the sense of home from newly built units, increasingly built as investment products. In the fourth and fnal chapter, real state capital and divergent characters face each other over the destiny of a native-forest flled plot in São Paulo's central region, forcing the State's various branches to an unusual mediation between property rights and the collective right to a common. Te "Parque Augusta" event assembles previous chapters' main issues and points towards a possibility, a cosmopolitical urbanism, the city to become.