Partindo de um compilado de crônicas escritas por Manuel Bandeira entre 1927 e 1936, e reunidas na obra Crônicas da Província do Brasil, de 1937, essa dissertação de mestrado busca compreender a partir das memórias registradas e criadas através dessas crônicas, a composição desse Brasil provinciano, tendo como base as cidades, isto é, como elas foram articuladas e descritas na obra. A forma como o cronista mobilizou suas diferentes memórias e experiências, e também as diferentes relações que estabeleceu com as cidades nas crônicas, construíram um quadro provinciano, que na verdade é o quadro que daria as bases do Brasil do futuro. São memórias de infância, da criança que se mudou muito cedo de sua terra natal e para lá retornou 30 anos depois; memória do viajante que buscava conhecer mais sua própria nação, e memórias do cotidiano, onde o mais simples e trivial da vida de todo dia foi registrado. São textos de diversos narradores, que carregam o olhar do indivíduo e de sua relação afetiva com a cidade, o olhar do cronista enquanto crítico social, e do intelectual envolvido com o movimento moderno brasileiro, que deixa propositalmente transparecer em sua escrita os traços de ruptura e ambivalência que o Brasil vivia. Assim, o que em um primeiro momento parece se tratar de crônicas de um provinciano para a província, mostra na verdade, um quadro complexo e diverso da realidade e da cultura brasileira, discutida, questionada e construída naquele momento, e que tinha na cidade um de seus principais agentes.

Based on a set of chronicles written by Manuel Bandeira between 1927 and 1936, and compiled in Crônicas da Província do Brasil, published in 1937, this master's dissertation seeks to understand, from the memories recorded and created through these chronicles, the composition of this provincial Brazil, based on the cities and how they were articulated and described in the book. The way in which the chronicler mobilized his different memories and experiences, and also the different relationships he established with the cities in the chronicles, built a "provincial" picture, which is actually the picture that would provide the foundations for the Brazil of the future. They are childhood memories, of the child who moved away from his homeland very early and returned there 30 years later; memory of the traveler who was seeking to know more about his own nation, and everyday memories, where the simplest and most trivial of everyday life was recorded. These are texts by different narrators, which carry the gaze of the individual and his affective relationship with the city, the gaze of the chronicler as a social critic, and the intellectual involved with the Brazilian modern movement, who purposely reveals in his writing the traces of rupture and ambivalence that Brazil was experiencing. Thus, what at first seems to be chronicles of a provincial for the province, actually shows a complex and diverse picture of reality and Brazilian culture, discussed, questioned and built at that time, and which had in the city one of its main agents.