Os canídeos selvagens estão ameaçados por vários fatores, principalmente a fragmentação do hábitat, causada pela expansão da agricultura e da pecuária, e a urbanização. Além disso, canídeos selvagens podem ser acometidos por diversos patógenos, alguns dos quais são zoonóticos e relevantes para a saúde pública. O objetivo deste estudo foi descrever as lesões macroscópicas e microscópicas encontradas em canídeos selvagens que foram a óbito na Associação Mata Ciliar, localizada no município de Jundiaí, estado de São Paulo, entre 2021 e 2023, bem como identificar possíveis agentes infecciosos e parasitários. Foram examinados 35 animais, sendo 28 cachorros-do-mato (Cerdocyon thous), seis lobos-guará (Chrysocyon brachyurus) e uma raposinha-do-campo (Lycalopex vetulus). Amostras de tecidos foram coletadas durante as necropsias para análises anatomopatológicas, imuno-histoquímicas e reação em cadeia da polimerase em tempo real. Nos cachorros-do-mato, a principal causa de morte foi trauma por atropelamento (35,7%), seguido por afecções do sistema respiratório (25%), eutanásia (21,4%), caquexia (10,7%), sepse (3,57%) e afecção gastrointestinal (3,57%). Nos lobos-guará, as causas de morte foram trauma por atropelamento (16,6%), afecção gastrointestinal (16,6%), sarna sarcóptica com debilidade intensa (16,6%), ectoparasitismo por pulgas com debilidade intensa (16,6%), afecção respiratória (16,6%) e sepse (16,6%). Entre os achados patológicos mais relevantes, destacam-se os de origem parasitária, como a pneumonia granulomatosa associada a parasitas da ordem Strongylida (possivelmente do gênero Angiostrongylus), acometendo cerca de 18% dos cachorros-do-mato, e os de origem infecciosa, como pneumonias relacionadas ao vírus da cinomose, agente que acometeu 14% dos animais (sendo 80% deles cachorros-do-mato). Na raposinha-do-campo, foi diagnosticado um carcinoma de células escamosas na cavidade oral uma neoplasia que ainda não havia sido relatada nessa espécie, e que culminou em sua eutanásia. Vários parasitas foram encontrados, com destaque para o Dioctophyme renale, identificado em 50% dos lobos-guarás. Esses resultados são relevantes, tendo em vista os inúmeros achados patológicos descobertos, e demonstram a importância da patologia na avaliação e no monitoramento do estado de saúde dos animais, bem como na investigação de doenças. Essas descobertas também contribuem para a elaboração e o aprimoramento de estratégias de conservação de canídeos selvagens.

Wild canids are threatened by many factors, mainly habitat fragmentation, caused by agricultural and livestock expansion, as well as urbanization. Moreover, wild canids can be affected by various pathogens, some of which are zoonotic and relevant to public health. The aim of this study was to describe the macroscopic and microscopic lesions found in wild canids that died at the Associação Mata Ciliar, municipality of Jundiaí, state of São Paulo, between 2021 and 2023, as well as to identify possible infectious and parasitic agents. Thirty-five animals were examined, 28 of which were crab-eating foxes (Cerdocyon thous), six maned wolves (Chrysocyon brachyurus), and one hoary fox (Lycalopex vetulus). Tissue samples were collected during necropsies for pathological analysis, immunohistochemistry, and real-time polymerase chain reaction. Among the crab-eating foxes, the primary cause of death was trauma from being hit by a car (35.7%), followed by respiratory system disorders (25%), euthanasia (21.4%), cachexia (10.7%), sepsis (3.57%), and gastrointestinal disorders (3.57%). In maned wolves, the causes of death were trauma from being hit by a car (16.6%), gastrointestinal illness (16.6%), sarcoptic mange with intense weakness (16.6%), ectoparasitism by fleas with intense weakness (16.6%), respiratory illness (16.6%), and sepsis (16.6%). Notable pathological findings included parasitic-related granulomatous pneumonia (associated with Strongylida parasites, possibly of the genus Angiostrongylus), which affected approximately 18% of the crab-eating foxes, and infectious-related pneumonia associated with distemper virus, which affected 11% of the animals (80% of which were crab-eating foxes). The hoary fox was diagnosed with squamous cell carcinoma in the oral cavitya neoplasm not previously reported in this species, which led to its euthanasia. Several parasites were found, notably Dioctophyme renale, which was identified in 50% of the maned wolves. These findings are relevant, given the numerous pathological discoveries, and demonstrate the importance of pathology in assessing and monitoring the health status of animals, as well as investigating diseases. These findings also contribute to the development and improvement of conservation strategies for wild canids.