Em situações traumáticas, para evitar a perda da perspectiva da continuidade da organização, seus líderes ou outros grupos interessados podem adotar estratégias discursivas para construir o senso de continuidade na direção de uma trajetória futura idealizada. A perspectiva de trabalho sócio-simbólico, em uma abordagem processual, já vem discutindo ações discursivas para construção de objetos simbólicos em torno dos quais as pessoas mudam seu entendimento e sua trajetória. A tese segue uma filosofia de processos e traz um caso da inversão do senso organizacional de "continuity of becoming" para "becoming of continuity", em organizações que passam por um sério evento disruptivo na sua trajetória. Realizamos um estudo qualitativo, indutivo, do caso do incêndio no Museu Nacional, a partir do incêndio de setembro de 2018 que destruiu acervos e o Palácio de São Cristóvão, que era a sede administrativa e local das principais e históricas exposições do Museu. A análise longitudinal foi feita ao longo de quatro anos, de setembro de 2018 até dezembro de 2022, acompanhando diariamente a repercussão nacional e internacional do incêndio e, em seguida, os eventos promovidos pelo Museu, assim como todas as ações em torno da reconstrução. Foram também realizadas entrevistas com membros do Museu que estiveram envolvidos no início do movimento da reconstrução. A presente tese usa a ontologia de processos para tratar a temporalidade do trabalho sócio-simbólico em organizações. A tese também usa a teoria de paradoxos organizacionais para analisar a tensão emergente em torno da solução de arquitetura a ser adotada na reconstrução do Palácio, um edifício-monumento tombado. A tese é composta por duas análises. Na primeira, é analisada a temporalidade de dois conjuntos de ações de trabalho sócio-simbólico liderados pelo Diretor do Museu e pelos líderes do resgate de coleções, que se prolongam no tempo e formam os chamados 'programas de ação'. A análise conclui que os elementos de temporalidade afetam a dinâmica do trabalho sócio-simbólico. Na segunda análise, discute-se o paradoxo organizacional que emergiu durante o trabalho sócio-simbólico realizado pelo diretor na formação dos programas de ação. Com a divulgação da proposta arquitetônica para o 'novo' Palácio houve intensas críticas ao que o projeto refletia, levando a direção do Museu a alterar o trabalho sócio-simbólico para amenizar as tensões do paradoxo. Esse novo trabalho simbólico seguiu o fluxo da separação espacial-temporal trazida pelo próprio processo de reconstrução de um edifício-monumento tombado. Neste caso, o líder percebe os ganhos deixados pela separação espacial-temporal do paradoxo e adequa sua estratégia de trabalho sócio-simbólico. As análises juntas indicam que o trabalho sócio-simbólico contém elementos temporais que devem ser considerados em estudos em que eventos disruptivos liberam tensões entre legado e trajetórias futuras.

As traumatic events threaten the perspective of continuity of organizations, managers are forced to launch a discursive strategy to construct a sense of continuity toward an idealized future trajectory. socio-symbolic work, in a process approach, has discussed discursive actions to build symbolic objects in which people change their understanding about a possible future trajectory. The thesis follows a process philosophy and brings a case of the reversal of the organizational sense from "Continuity of Becoming" to "Becoming of Continuity" in organizations that face severely traumatic events. We conducted a qualitative and inductive case study on the fire accident in September 2018 that destroyed a considerable part of the collections and the Palace of the Brazilian National Museum. The Palace during centuries held the administrative staff and the main historical exhibitions. We conducted a longitudinal analysis over four years, from September 2018 until December 2022, following the daily national and international accident repercussions, the events promoted by the museum, and all actions regarding the reconstruction project. During this period, we conducted interviews with museum members involved at the beginning of the reconstruction movement. This thesis uses the ontology of processes to address the temporality of socio-symbolic work in organizations and the theory of organizational paradoxes to analyze the emerging tension from the architectural design for the rebuilding of such a historical monument. The thesis consists of two analyzes. In the first, it is analyzed the temporality of two sets of social work led by the director of the museum and the leaders of the rescue of collections, which last in time to amalgamate the so-called 'action programs'. The analysis reveals that the elements of temporality affect the dynamics of socio-symbolic work. In the second analysis, we discussed that when organizational paradox came from the sociosymbolic work carried out by the director in the formation of action programs, the museum's direction quickly reconfigured the socio-symbolic work to alleviate the paradox tensions. The intense critics about what the architectural proposal for the 'new' Palace reflected was temporally solved following the flow of spatial-time separation enacted by the engineering flow for rebuilding a historical monument. In this case, the leader perceives the gains left by the spatial-temporal separation of the paradox and fits his socio-symbolic working strategy. The analysis together indicates that socio-symbolic work contains temporal features that should be considered for studies in which disruptions liberate tensions between legacy and future trajectories.