A visão relacional da teoria de affordances emergiu na área de sistemas de informação e estudos organizacionais como uma abordagem viável para explicar a variação no uso de tecnologias da informação e seus impactos nas organizações. De acordo com essa teoria, as possibilidades para ação que se pode ter com uma tecnologia (affordances) não são inerentes à própria pessoa ou à tecnologia, mas emergem da interação entre ambos. Apesar de tal visão implicar um caráter relacional, os seus conceitos têm sido insuficientemente teorizados, e ignoram o papel dinâmico da presença de outros artefatos, pessoas e práticas temporais contingentes, o que limita sua aplicabilidade prática e teórica e seu poder explicativo. Essa tese defende que os affordances devem ser observados em um aspecto dinâmico e que a materialidade deve ser considerada como constituinte do processo de prestação de contas. Utilizou-se um estudo qualitativo, realizado através de um estudo de campo para analisar a micro prática de prestação de contas de governos realizado por contadores municipais no Brasil que vem passando por uma transformação. Com base nos conceitos da teoria de affordances, foi possível observar 2 processos distintos nessa transformação onde cada design leva uma heurística. Demostrou-se como os affordances são relacionais e contínuos durante a interação dos profissionais com os objetos materiais que circundam as práticas, analisando como os affordances se alteram, e as implicações para as práticas profissionais. Os resultados mostram que a interação dos profissionais com as tecnologias se encontra em uma dinâmica onde múltiplos affordances acontecem, e que a introdução de uma nova tecnologia altera funcionalidades e pode deslocar o papel central dos profissionais na prática para uma posição de mediador das informações. Esta tese contribui com a discussão sobre a materialidade de processos organizacionais e complementa a literatura existente, demonstrando a dinâmica da mudança subjacente às implementações de tecnologias e fornece aos pesquisadores insights para teorizar sobre a tecnologia considerando os aspectos dinâmicos, contextuais e contínuos dos affordances sobre as práticas sociais e organizacionais.

The relational view of the affordance theory emerged in information systems and organizational studies as a viable approach to explain variations in the use of information technologies and their impact on organizations. According to this theory, the possibilities for action enacted by a technology (affordances) is not inherent to a person nor to the technology but results from the interaction between both. Although such a view implies a relational character, its concepts have been insufficiently theorized and ignore the dynamic role of other contingent temporal artifacts, people, and practices, limiting its practical and theoretical applicability and its explanatory power. This thesis argues that affordances must be observed in a dynamic aspect and that the materiality must be considered a constituent of the process. A qualitative study was conducted to analyze the accountability micro-practices by public sector accountants in Brazil undergoing a transformation. Based on the concepts of affordance theory, it was possible to observe two distinct processes in this transformation. It has shown how the opportunities are relational and continuous during the interaction of professionals with the material objects surrounding the practices, how the opportunities change, and the implications for professional practices. The results show that the interaction of professionals with technology is dynamic, where multiple opportunities occur. The introduction of new technology alters functionality and can shift professionals' central role in practice to the position of mediator of information. This thesis contributes to the discussion on the materiality of organizational processes and complements existing literature, demonstrates the dynamics of change underlying technology implementations, and provides researchers with insights into theorizing technology, taking into account the dynamic, contextual, and continuous social aspects and organizational practices.