Com o objetivo de fornecer uma contribuição clínico-laboratorial, que permitisse avaliar a gravidade da intoxicação por dapsona (DDS), foram estudadas as análises toxicológicas e os dados de 274 pacientes, dos quais 60% mulheres. As análises toxicológicas laboratoriais foram efetuadas no Laboratório do Centro de Controle de Intoxicações, da Prefeitura do Município de São Paulo, no período de janeiro de 1985 a dezembro de 1995. As idades dos pacientes variaram de 1 mês a 50 anos, razão pela qual foram distribuídos em 4 grupos etários: o grupo 1 constituído por 147 crianças menores de 5 anos de idade (55,2%), o grupo 2 por 33 crianças de 5 a 12 anos (12,4%), o grupo 3 por 39 adolescentes de 13 a 18 anos (14,7%) e o grupo 4 por 47 adultos de 19 a 50 anos (17,7%). As principais manifestações clínicas observadas foram: cianose intensa em 188 pacientes, taquicardia em 52, dispnéia em 26, vômitos em 21. Apenas 10 evidenciaram confusão mental e 2 convulsão. Todos os pacientes que ingeriram mais de 25 comprimidos (2,5 g de DDS) tiveram cianose intensa, 35% apresentaram taquicardia e 53% dispnéia. Elevada prevalência de intoxicações por tentativa de suicídio foi constatada em adultos (53,6%) e adolescentes (40,6%), com a predominância de mulheres (66,7%). As causas acidentais (99%) ocorreram principalmente em crianças dos grupos 1 e 2. A gravidade da intoxicação, baseada nos níveis de metemoglobinemias, mostrou que 9,5% dos pacientes tiveram intoxicação leve, 33,9% moderada e 56,4% grave. A gravidade da intoxicação, baseada nas concentrações plasmáticas de DDS total, mostrou que 35,6% dos pacientes tiveram intoxicação leve, 25,4% moderada· e 39% grave. A ingestão igual ou superior a 20 comprimidos causou sempre intoxicação grave, tanto pelo critério da metemoglobinemia quanto pelo da dapsonemia. O número de comprimidos de DDS ingeridos em termos de mediana, foi diferente nos quatro grupos estudados, sendo maior nos grupos 3 e 4 (10 e 20 comprimidos respectivamente). Não houve correlação direta entre os valores da metemoglobinemia inicial obtidos e o tempo decorrido após a intoxicação. Entretanto, constatou-se uma significativa correlação, quando todos os valores foram levados em consideração. Relação semelhante foi observada entre a dapsonemia e o tempo decorrido após a intoxicação. As correlações entre as metemoglobinemias e dapsonemias foram significativas, embora os coeficientes de correlação calculados tenham demonstrado valores relativamente baixos. A análise longitudinal utilizando-se "modelos lineares generalizados para dados dependentes, via equações estimadas generalizadas (GEE)" foi realizada fixando-se o valor da dapsonemia como variável dependente e a quantidade de comprimidos ingerida, o nível de metemoglobinemia, o tempo decorrido após ingestão, a idade e o sexo como variáveis independentes. Mostrou-se que existe uma relação significativa entre a gravidade da intoxicação, representada pelos valores da dapsonemia, da metemoglobinemia e do tempo decorrido após ingestão (t). Deste modo, é possível estimar-se a dapsonemia desde que se tenha o valor determinado da metemoglobinemia e do tempo decorrido após a ingestão do fármaco. A expressão matemática abaixo relaciona a dapsonemia com a metemoglobinemia, parâmetros que servem como importantes indicadores biológicos na intoxicação por dapsona: Dapsonemia = 12,9256 - 0,0682t + 0,234.metemoglobinemia

In order to make a clinical and laboratorial contribution, to evaluate the severity of the dapsone (DDS) intoxication, studies were done of toxicological analysis and data of 274 patients, 60% females, performed at São Paulo's City Hall Laboratory of the Poison Control Center, obtained from January 1985 to December 1995. The patient ages varied from 1 month to 50 years old and they were distributed in 4 groups: group 1, constituted by 147 children less than 5 years old (55.2%), group 2, by 33 children with 5 to 12 years (12.4), group 3, by 39 adolecescents with 13 to 18 years (14.7%) and group 4, by 47 adults with 19 to 50 years (17.7%). The main clinical manifestations observed were: marked cyanosis in 188 patients, tachicardia in 52, dyspnea in 26, vomiting in 21. Only 10 patients had mental distress and just 2 presented convulsions. All patients who ingested more than 25 tablets (2.5 g of DDS) had marked cyanosis, 35% had tachicardia and 53% had dyspnea. High prevalence of poisoning in due of trying suicide was observed in adults (53.6%) and adolescents (40.6%), prevailing females (66.7%). Accidental poisining occurred mainly in children (99%), from groups 1 and 2. The severity of poisoning, based on the methemoglobinemia levels, demonstrated that 9.5% of the patients had mild intoxication, 33.9% moderate and 56.4% severe. The severity of intoxication measured by plasma concentrations of total DDS revealed that 35.6% of the patients had mild intoxication, 25.4% moderate and 39% severe. Equal or superior intake of 20 tablets always caused severe intoxication, either using the methemoglobinemia or dapsonemia criterion. The number of DDS ingested tablets, estimated in median, was different among the four groups studied, being more elevated in groups 3 and 4 (10 and 20 tablets respectively). There was no correlation between the first measurements of methemoglobinemias and the elapsed time after poisoning. Despite, a significant correlation was seen when all the values were used in the calculation. Similar relation was observed between dapsonemia and time elapsed from poisoning. The correlations between methemoglobinemias and dapsonemias were statiscally significant, although the values of correlation coefficients were not high. Longitudinal analysis based on "generalized linear models for dependent data, via generalized estimating equations (GEE)" was done assuming the value of dapsonemia as a dependent variable and the following as independent variables: the amount of ingested tablets, level of methemoglobinemia, elapsed time from ingestion, age and sex. It demonstrated a significant correlation among the severity of intoxication, represented by the values of dapsonemia, methemoglobinemias and elapsed time from ingestion (t). Therefore, it is possible to estimate dapsonemia through the methemoglobinemia determinations when the time elapsed after drug exposition is known. The mathematic equation below relates dapsonemia and methemoglobinemia, both important parameters used as markers of the severity of DDS poisoning: Dapsonemia = 12.9256 - 0.0682(t) + 0.234.methemoglobinemia