No Brasil, as serpentes do gênero Bothrops são as responsáveis por causar a maior parte dos envenenamentos, e seus sintomas são principalmente a ação hemorrágica, inflamação aguda e distúrbios na coagulação. Apesar de historicamente o potencial coagulante dos venenos de serpentes ter sido analisado apenas pelo tempo de formação do coágulo, sabe-se que eles podem atuar em diversos pontos da cascata de coagulação. Tendo em vista esses aspectos, o objetivo deste trabalho foi caracterizar o perfil coagulotóxico dos venenos de Bothrops erythromelas e Bothrops leucurus e o potencial neutralizante do soro antibotrópico. Para isso, foram realizados testes de análise do perfil proteico, imunorreconhecimento, análise das atividades enzimáticas, ação do veneno sobre fatores específicos da cascata de coagulação, tromboelastometria e inibição das atividades pelo soro antibotrópico. A análise do perfil proteico apresentou padrão característico para cada espécie, evidenciando que as B. erythromelas têm maior concentração de metaloproteases em seus venenos enquanto as B. leucurus têm fosfolipases A₂ em abundância. As amostras de veneno de B. erythromelas foram melhor reconhecidas pelo soro antibotrópico quando comparadas com as amostras de B. leucurus. Não houve diferenças entre as amostras de B. erythromelas e B. leucurus em relação as atividades enzimáticas testadas, porém o soro antibotrópico apresentou melhor inibição da atividade proteolítica das amostras de B. erythromelas. As amostras de B. leucurus tiveram maior atividade trombina-símile, e foram melhor neutralizadas pelo soro antibotrópico na ativação de Fator X. O veneno de B. erythromelas mostrou tendência de ser mais pró-coagulante sobre o plasma do que os venenos de B. leucurus, e o pool de veneno de ambas as espécies se mostrou mais pró-coagulante do que a média dos indivíduos. Por fim, o soro antibotrópico inibiu melhor o potencial coagulante das amostras de B. leucurus do que das amostras de B. erythromelas. Conclui-se que apesar dos venenos utilizados neste trabalho se mostrarem pró-coagulantes, possuem diferenças com relação à sua capacidade coagulante sobre a cascata de coagulação plasmática.

In Brazil, snakes of the genus Bothrops are responsible for most cases of envenomation, and the symptoms are mainly hemorrhagic action, acute inflammation and coagulation disorders. Although historically the coagulant potential of snake venoms has been analyzed only by the time of clot formation, it is known that they may act at several stages in the coagulation cascade. Bearing these aspects in mind, the objective of this work was to characterize the coagulotoxic profile of Bothrops erythromelas and Bothrops leucurus venoms and the neutralizing potential of antibothropic serum. To this end, tests were carried out to analyze the protein profile, immunorecognition, analysis of enzymatic activities, action of the venom on specific factors of the coagulation cascade, thromboelastometry and inhibition of activities by the antibothropic serum. The analysis of the protein profile showed a specific pattern for each species, showing that B. erythromelas has a high concentration of metalloproteases in their venoms, while B. leucurus has phospholipases A₂ in abundance. B. erythromelas venom samples were better recognized by antibothropic serum when compared to B. leucurus samples. There were no differences between the samples of B. erythromelas and B. leucurus in relation to the enzymatic activities analyzed, however the antibothropic serum showed better inhibition of the proteolytic activity of the samples of B. erythromelas. B. leucurus samples had higher thrombinlike activity and were better neutralized by antibothropic serum in activating Factor X. B. erythromelas venom presented a tendency to be more procoagulant on plasma than B. leucurus venoms, and the venom pool of both species was more procoagulant than the average of the individuals. Finally, antibothropic serum inhibited the coagulant potential of B. leucurus samples better than B. erythromelas samples. It is concluded that although the venoms used in this work are shown to be procoagulant, they have differences regarding their coagulant capacity on the plasmatic coagulation cascade.