A disputa de repertórios morais nos entornos eleitorais constitui um dos eixos mobilizadores do ativismo evangélico conservador, para legitimar ou deslegitimar processos macropolíticos. O solo fértil do conservadorismo, a formação de sujeitos políticos atrelada à produção de sujeitos religiosos, e somado às diversas crises, tornam-se recursos coadjuvantes para lideranças de cunho pentecostal e neopentecostal no momento de pautar contra a democratização de direitos a segmentos marginalizados, por serem considerados ameaças para a "ordem natural". A irredutibilidade na coexistência das diferenças, e como se pauta negativamente através delas, para atingir a sociedade na totalidade, faz parte não apenas de uma das controvérsias da política contemporânea, mas de sua configuração como problema público, dada a natureza ferrenha intrínseca à disputa. Nesta pesquisa, qualitativamente comparada, cujo objeto refere-se ao próprio uso dessa moralidade e a interseção entre ativismo evangélico conservador e processos macropolíticos, debruça-se nas campanhas a favor do impeachment no Brasil e contra o plebiscito pela paz na Colômbia em 2016, por parte de lideranças evangélicas. Portanto, esta tese, que trata da análise do uso da moralidade religiosa no político e as consequentes acomodações nas relações de força, debruça-se em três partes, teórica, descritiva e de análise. Sugere-se, por fim, que o uso da moralidade tem se reproduzido como um mecanismo político de mobilização, que visa dar legitimidade ou ilegitimidade a decisões políticas de abrangência nacional. As pautas morais de defesa dos valores hegemônicos; as mutações discursivas entre o secular e o religioso alinhados com a Teologia da Prosperidade; o desenvolvimento de pedagogias que frisam à visibilidade do sujeito, e os acordos programáticos na política partidária, atrelados aos capitais simbólico e financeiro das organizações religiosas tornam-se o meio político para alcançar a sociedade em seu conjunto. Assim, este texto se apresenta como uma cartografia do campo político-religioso contemporâneo, no Brasil e na Colômbia, o qual desafia as representações hegemônicas de fronteiras entre o público e o privado e assinala um dos quesitos estruturais na política atual de América Latina.

The dispute over moral repertoires in electoral environments constitutes one of the mobilizing axes of conservative evangelical activism, to legitimize or delegitimize macropolitical processes. The fertile soil of conservatism, the formation of political subjects linked to the production of religious subjects, and added to the various crises, become supporting resources for Pentecostal and neo-Pentecostal leaders when it comes to advocating against the democratization of rights to marginalized segments, for considered threats to the "natural order". The irreducibility in the coexistence of differences, and how it is negatively guided through them, to reach society as a whole, is part not only of one of the controversies of contemporary politics, but of its configuration as a public problem, given the fierce nature intrinsic to the dispute. In this qualitatively comparative research, whose object refers to the very use of this morality and the intersection between conservative evangelical activism and macropolitical processes, it focuses on the campaigns in favor of impeachment in Brazil and against the plebiscite for peace in Colombia in 2016, on the part of evangelical leaders. Therefore, this thesis, which deals with the analysis of the use of religious morality in politics and the consequent accommodations in power relations, focuses on three parts: theoretical, descriptive, and analytical. Finally, it is suggested that the use of morality has been reproduced as a political mobilization mechanism, which aims to give legitimacy or illegitimacy to political decisions of national scope. The moral guidelines for the defense of hegemonic values; the discursive mutations between the secular and the religious aligned with Prosperity Theology; the development of pedagogies that emphasize the subject's visibility, and programmatic agreements in party politics, linked to the symbolic and financial capital of religious organizations, become the political means to reach society as a whole. Thus, this text presents itself as a cartography of the contemporary political-religious field, in Brazil and Colombia, which challenges the hegemonic representations of borders between public and private and points out one of the structural issues in current politics in Latin America.