A presente pesquisa propõe um estudo dos romances Herejes de Leonardo Padura Fuentes e A República dos Sonhos de Nélida Piñon. Por serem obras extensas, de grande complexidade artística e que apresentam diversas possibilidades de leitura e análise é, obviamente, impossível esgotá-las. Assim, o enfoque do estudo proposto será o de analisar como ocorrem os processos de produção das diversas identidades culturais performadas pelas personagens. As identidades culturais são formadas e construídas pela ação de diversos vetores, tais como a ação dos Estados-Nacionais na formação da identidade nacional através de políticas públicas deliberadas e na criação de heróis nacionais; ou ainda ação das multinacionais, que através do incentivo ao consumo cultural - estilos musicais como K-Pop, por exemplo - corrobora a formação de tribos urbanas; discursos produzidos e reiterados historicamente sobre as orientação sexual, gênero e "raça", atuam conformando comportamentos, sentimentos e ações. A conjugação da análise literária com a epistemologia e metodologia de algumas ciências sociais (História, Sociologia, Geografia, Psicologia) foi utilizada na tentativa de investigar transdisciplinarmente de que maneira estes vetores atuam na formação identitária das personagens dos romances. Distante de conclusões demasiado fechadas ou perenes, a pesquisa apontou para um choque geracional que opõe a aceitação de identidades construídas socialmente e seu questionamento, promovendo um processo de destruição e reconstrução identitária. Mario Conde e Judith evidenciaram a atuação do estado-nacional cubano na promoção do Homem-Novo como estruturante da identidade do primeiro, que cresce no contexto da Revolução Cubana de 1959 e do socialismo de Fidel Castro a partir de 1961, enquanto que, diante das circunstâncias de crise dos anos 1990, influenciada pela Globalização, a jovem Judy questiona o ideário construído pela Cuba castrista. A formação discursiva sobre a "mulher" é evidenciada pelo confronto de gerações que opõem Eulália e Esperança no romance de Nélida. Enquanto Eulália se submete a tal construção, sua filha a questiona e leva ao extremo sua insatisfação quanto ao papel social a ela destinada. Odete, da mesma forma que Eulália, inconscientemente, se submete à construção discursiva histórica sobre a mulher negra e seu papel social.

This research proposes a study of the novels Herejes by Leonardo Padura Fuentes and A república dos Sonhos by Nélida Piñon. Because they are extensive works, of great artistic complexity and that present different possibilities of reading and analysis, it is obviously impossible to exhaust them. Thus, the focus of the proposed study will be to analyze how the production processes of the different cultural identities performed by the characters occur. Cultural identities are formed and constructed by the action of several vectors, such as the action of the Nation-States in the formation of the national identity through deliberate public policies and in the creation of national heroes; or even the action of multinationals, which, by encouraging cultural consumption - musical styles such as K-Pop, for example - corroborate the formation of urban tribes; discourses produced and reiterated historically about sexual orientation, gender and "race", act by shaping behaviors, feelings and actions. The combination of literary analysis with the epistemology and methodology of some social sciences (History, Sociology, Geography, Psychology) was used in an attempt to investigate in a transdisciplinary way how these vectors act in the identity formation of the characters in the novels. Far from overly closed or perennial conclusions, the research pointed to a generational shock that opposes the acceptance of socially constructed identities and their questioning, promoting a process of identity destruction and reconstruction. Mario Conde and Judith highlighted the role of the Cuban national state in promoting the New Man as a structuring element of the former's identity, which grew in the context of the Cuban Revolution of 1959 and Fidel Castro's socialism from 1961 onwards, while, given the crisis circumstances of the 1990s, influenced by Globalization, young Judy questions the ideals built by Castro's Cuba. The discursive formation about the "woman" is evidenced by the confrontation of generations that oppose Eulália and Esperança in Nélida's novel. While Eulália undergoes this construction, her daughter questions her and takes her dissatisfaction with the social role assigned to her to the extreme. Odete, like Eulália, unconsciously submits to the historical discursive construction of black women and their social role.