Há séculos os segmentos sociais explorados no continente latino-americano lutam para que suas vozes sejam ouvidas e respeitadas. Em um cenário em que o sistema de comunicação é dominado por poucos atores ligados aos interesses daqueles que estão no poder desde o período colonial, os veículos jornalísticos que se propõem a destacar as narrativas dos grupos oprimidos tornam-se uma das poucas alternativas para a reflexão crítica. Eles podem ser chamados de "contra-hegemônicos" (com base no conceito de contra-hegemonia que Raymond Williams propôs a partir da teoria gramsciana), no sentido que colaboram para reverter as condições de marginalidade impostas a amplos estratos sociais por aqueles que detêm temporariamente a hegemonia. Essa pesquisa estuda 14 iniciativas de jornalismo contra-hegemônico na Argentina e no Brasil na contemporaneidade, com o recorte temporal de março de 2016 a dezembro de 2020, um período bastante intenso em termos políticos, econômicos e sociais nas duas nações. Essas iniciativas foram pesquisadas por intermédio de entrevistas semiestruturadas, com seus representantes, e através da pesquisa de campo, com visitas a algumas redações. Os veículos são analisados segundo a prática de jornalismo e emancipação proposta pelo professor Dennis de Oliveira, a partir dos aportes teóricos de Paulo Freire, Adelmo Genro Filho e Oscar Jara. O jornalismo emancipatório prevê uma dialogia nas ações de comunicação que se pretendam libertadoras, a fim de que haja uma conscientização coletiva. Trata-se de um caminho para que a comunicação contra-hegemônica tenha adesão e legitimidade. Além de avaliar as iniciativas estudadas com a perspectiva emancipatória, o presente estudo buscou registrar a trajetória desses veículos, apontar suas estratégias e ações diante do cenário político e social (no período temporal delimitado) e as semelhanças e particularidades entre suas atuações no Brasil e na Argentina, afora os desafios que precisam ser vencidos para que suas atividades possam ser realizadas com mais segurança.

For centuries, the social segments explored in the Latin American continent have been fighting for their voices to be heard and respected. In a scenario in which the communication system is dominated by few actors linked to the interests of those who have been in power since the colonial period, the journalistic vehicles that aim to highlight the narratives of oppressed groups become one of the few alternatives for reflection critical. They can be called "counter-hegemonic" (based on Raymond Williams' concept proposed from Gramsci's theory), in the sense that they collaborate to reverse the conditions of marginalization imposed on broad social strata by those who temporarily hold hegemony. This research studies 14 counter-hegemonic journalism initiatives in Argentina and Brazil today, with the time frame from March 2016 to December 2020, a very intense period in political, economic and social terms in both nations. These initiatives were researched through semi-structured interviews, with their representatives, and through field research, with visits to some newsrooms. The vehicles are analyzed according to the journalism and emancipation practice proposed by professor Dennis de Oliveira, based on the theoretical contributions of Paulo Freire, Adelmo Genro Filho and Oscar Jara. Emancipatory journalism foresees a dialog in the communication actions that are intended to be liberating, so that there is a collective awareness. It is a way for counter-hegemonic communication to have adherence and legitimacy. In addition to evaluating the initiatives studied with an emancipatory perspective, the present study sought to record the trajectory of these vehicles, point out their strategies and actions in the face of the political and social scenario (in the defined time period) and the similarities and particularities between their actions in Brazil and Argentina, aside from the challenges that need to be overcome so that its activities can be carried out more safely.