Com o propósito de compreender como três grupos de professores construíram oportunidades de aprendizagem sobre o EnCI (Ensino de Ciências por Investigação), conduzimos um estudo de caso comparado orientado por uma perspectiva etnográfica, adotando princípios e práticas da Etnografia Interacional. Para isso, analisamos eventos de um curso de formação continuada oferecido na rede municipal de ensino de São Paulo no contexto de um movimento de reforma curricular. Por meio de uma análise macroscópica dos registros audiovisuais e das notas em caderno de campo, selecionamos um conjunto de eventos nos quais três grupos de professores buscam identificar as fases do Ciclo Investigativo em sequências didáticas que compõem o material curricular produzido no âmbito da reforma. Em seguida, produzimos mapas de eventos e transcrevemos as interações dos professores no nível de unidades de mensagem. Buscamos compreender, nestes dados, (i) quais relações intertextuais e intercontextuais são propostas em cada grupo de professores e como elas apoiam a construção de oportunidades de aprendizagem docente sobre o EnCI e (ii) como os professores de cada grupo negociam interacionalmente o posicionamento de seus membros e quais as consequências das posições ocupadas nestes eventos. A partir de uma análise microscópica do discurso, mostramos como os grupos construíram oportunidades de aprendizagem sobre o EnCI por meio do estabelecimento relações intertextuais e intercontextuais tais como referências ao documento curricular, às memórias coletivas do grupo, aos contextos de sala de aula e ao discurso dos formadores. Entretanto, observamos diferenças nos grupos quanto aos tipos de relações propostas e quanto a como e por quem elas foram propostas e reconhecidas. Além disso, apresentamos uma descrição de como os membros dos três grupos foram posicionados e se posicionaram ao longo das sequências interacionais dos eventos analisados. Enquanto observamos que em dois dos grupos os professores se posicionaram como pares competentes responsáveis pela aprendizagem coletiva, em outro notamos posições mais dicotômicas de um membro que ensina e dos demais que aprendem dele. Com base nessas análises, discutimos as diferenças nos grupos em relação a dois aspectos: o que conta como conhecimento e o conhecimento de quem conta em tais eventos. Por fim, tecemos algumas considerações a respeito das abordagens teórico-metodológicas empregadas e refletimos acerca das implicações do trabalho para a pesquisa e para os programas de formação de professores.

With the aim of understanding how three groups of teachers constructed opportunities for learning about IBSE (Inquiry-Based Science Education), we conducted a comparative case study oriented by an ethnographic perspective, adopting principles and practices of Interactional Ethnography. To do so, we analyzed events of a professional development program offered by the municipal school system of São Paulo as a part of a curriculum reform movement. Through a macroscopic analysis of audiovisual records and fieldnotes, we selected a set of events in which three groups of teachers seek to identify the phases of the Inquiry Cycle in teaching units of the curriculum materials produced during the reform. Then, we constructed event maps and transcribed teachers interactions in the level of message units. We sought to understand, in this data, (i) what intertextual and intercontextual relationships are proposed in each group and how they support the construction of opportunities for teacher learning about IBSE and (ii) how the teachers of each group interactionally negotiate the positioning of its members and what are the consequences of such positions in these events. By means of a microscopic discourse analysis, we show how the groups constructed opportunities for learning through the establishment of intertextual and intercontextual relationships such as references to the prescribed curriculum, to collective memories, to their own classrooms and to the teacher educators discourse. However, we observed differences among the groups as to the kinds of relationships proposed and as to how and by whom they were proposed and recognized. Moreover, we present a discussion on how the members of the three groups were positioned by themselves and by others throughout the sequence units of the analyzed events. While in two of the groups we observed the teachers positioning themselves as competent peers responsible for collective learning, in the other we noted much more dichotomous positions of a member who taught and others who learn from him. Drawing from these analyses, we discuss the differences in these groups in relation to two aspects: what counts as knowledge and whose knowledge counts in these events. Finally, we offer some considerations concerning the theoretical and methodological approaches we employed and reflect on the implications of our work for research and for teacher education programs.