Os documentos oficiais que regulam o ensino de ciências no ensino médio, assim como a literatura de pesquisa desta área, destacam a relevância do conceito de energia na educação básica. Dentre as expectativas expressas com relação ao ensino do conceito de energia, temos a formação de cidadãos capazes de analisar criticamente questões contemporâneas: como a crise energética e o aquecimento global. Capazes, ainda, de propor novos processos de geração de energia, ao considerar a necessidade de economizar recursos e gerar menos impactos sociais e ambientais. A fim de garantir essas e outras expectativas em relação ao conceito de energia, especialistas em ensino de ciências têm sugerido uma reorientação global no ensino deste conceito. Simultaneamente, os diversos estudos sobre o ensino do conceito de energia e sobre a concepção de energia dos estudantes de diversos níveis da educação básica documentam uma série de dificuldades relacionadas ao ensino e a aprendizagem deste conceito e mostram que, frequentemente, as concepções de energia deles se distanciam daquela sugerida pelos documentos oficias e estudiosos da área. Inspirados na filosofia do segundo Wittgenstein e fundamentados na epistemologia do uso de Arley Ramos Moreno, refletimos sobre o papel da linguagem na formação dos conceitos científicos no contexto escolar, em especial o conceito físico de energia. A partir da observação das aulas de física de uma turma do ensino médio durante um ano letivo, apresentamos algumas evidências da presença de determinados sentidos do conceito de energia que são privilegiados quando comparados com outros sentidos válidos do mesmo conceito. Como é o caso, por exemplo, da definição de energia como capacidade de realizar trabalho. Refletimos sobre as dificuldades que os usos dogmáticos do conceito de energia poderiam representar para a compreensão de alguns de seus aspectos e de determinados problemas do mundo contemporâneo. Concluímos destacando a importância da exemplificação e do uso de experimentos para a formação de um conceito de energia menos dogmático.

The official documents that regulate science teaching in high school, as well as the research literature in science teaching, highlight the relevance of the concept of energy in basic education. Among the expectations expressed in relation to the teaching of the concept of energy, we have the training of citizens capable of critically analyzing contemporary issues such as the energy crisis and global warming and capable of proposing new energy generation processes considering the need to save resources and generate less social and environmental impacts. In order to guarantee these and other expectations regarding the concept of energy, specialists in science education have suggested a global reorientation in the teaching of this concept. At the same time, the various studies on the teaching of the concept of energy and on the conception of energy by students at different levels of basic education document a series of difficulties related to the teaching and learning of this concept and show that, frequently, the energy conceptions of students distance themselves from that suggested by official documents and scholars in the field. Inspired by the philosophy of the second Wittgenstein and based on the epistemology of usage of Arley Ramos Moreno, we reflected on the role of language in the formation of scientific concepts in the school context, especially the physical concept of energy. From the observation of the physics classes of a high school class during an academic year, we present some evidence of the presence of certain images of the concept of energy that are privileged when compared with other valid images of the same concept. We reflected on the difficulties that the dogmatics uses of these images could represent for the understanding of certain aspects of the concept of energy and certain problems of the contemporary world. We conclude by highlighting the importance of the wealth of examples and the use of experiments for the formation of a less dogmatic concept of energy.