Nos últimos anos a formação de professores tem sido debatida, mas pouco se investigou sobre uma concepção mais ampla de formação dos professores, no qual entende-se esse processo como contínuo ao longo da trajetória de vida, não somente nos estudos universitários. A formação pode ser entendida observando a influência de outras esferas da vida social na socialização de disposições na prática professor. Para compreender essa relação, o objetivo deste trabalho foi entender a relação entre as características do habitus - expressos pelas suas práticas, valores e expectativas - de professores de ciências do ensino básico com seus respectivos processos de socialização ao longo de sua trajetória de vida, social, acadêmica e profissional. Como plano de fundo teórico e metodológico utilizou-se a teoria de Pierre Bourdieu, suas concepções sobre a prática social dos agentes pelo estudo do habitus , dos capitais em disputa e da heteronomia dos campos sociais. A praxiologia bourdieusiana serviu de arcabouço metodológico para a construção do desenho de pesquisa. Neste trabalho foram estudados 16 professores das áreas de ciências (Biologia, Física, Química e Ciências) do ensino básico da capital paulista. Caracterizando-se por ser uma pesquisa qualitativa, utilizou-se para a investigação um questionário e entrevistas semi-estruturadas, sendo os dados analisados por meio da Análise de Correspondências Múltiplas (ACM). A pesquisa mostrou a influência de outros espaços sociais na socialização de características do habitus nos professores de ciências e a formação de dois diferentes perfis de professores, com diferenças nos processos de socialização que passaram ao longo da vida. Além do mais, foi possível verificar que outros espaços sociais, como o campo econômico e universitário, influenciam fortemente no campo escolar, pois essas duas instâncias são responsáveis por incorporar disposições nos professores estudados. Nesse sentido, verificou-se que as disputas dentro do campo escolar, por ser um campo com pouca autonomia, dependem de um acúmulo de capital social por parte dos professores de ciências.

In recent years, teacher training has been debated, but little research has been carried out into a broader concept of teacher training, in which this process is understood as continuous throughout life, not just during university studies. Training can be understood by observing the influence of other spheres of social life on the socialisation of dispositions in teacher practice. In order to understand this relationship, the aim of this study was to understand the relationship between the characteristics of the habitus - expressed by practices, values and expectations - of primary school science teachers and their respective socialisation processes throughout their social, academic and professional life trajectories. The theoretical and methodological background used was Pierre Bourdieu's theory, mainly his conceptions of the social practice of agents through the study of habitus , capitals in dispute and the heteronomy of social fields. Bourdieusian praxeology served as a methodological framework for the construction of the research design. In this study, 16 science teachers (Biology, Physics, Chemistry and Science) from primary schools in the city of São Paulo were analysed. Characterised as a qualitative study, the research used a questionnaire and semi-structured interviews, and the data was analysed using Multiple Correspondence Analysis (MCA). The research showed the influence of other social spaces on the socialisation of habitus characteristics in science teachers and the formation of two different teacher profiles, with differences in the socialisation processes they have undergone throughout their lives. Furthermore, it was possible to verify that other social spaces, such as the economic and university fields, have a strong influence on the school field, as these two instances are responsible for incorporating dispositions in the teachers studied. In this sense, it was found that disputes within the school field, as it is a field with little autonomy, depend on science teachers accumulating social capital.