As mudanças ocorridas nos últimos três séculos fomentam discussões nos dias atuais sobre as ameaças dos avanços científicos e tecnológicos, no que diz respeito ao projeto de modernidade proposto no Iluminismo, e no seu fracasso, com a degradação e a maior intervenção do ser humano no meio ambiente, tema de trabalho de Ulrich Beck na obra Sociedade de Risco: Rumo a uma nova modernidade, que debate o potencial político, econômico e social dos avanços científicos e tecnológicos na sociedade ocidental. Nesse contexto, a pandemia de COVID-19 se torna um tema particularmente interessante para a discussão dessas relações, por refletir a rapidez da circulação de bens, riscos e pessoas. Por isso, propomos um estudo exploratório com estudantes de licenciatura em Matemática e Química sobre percepção de risco após um curso introdutório sobre risco, utilizando como temática a pandemia de COVID-19. Busca-se assim entender o processo de mudança da percepção de risco, bem como estabelecer relações não triviais entre ciência, tecnologia, sociedade e meio-ambiente. Para tanto, foi construído um questionário, validado por pares, que leva em consideração o modelo de percepção ampliada de risco em dois momentos do curso, bem como as justificativas dadas por eles na segunda aplicação do questionário. A comparação das respostas foi feita utilizando o teste de Wilcoxon para postos sinalizados, enquanto as justificativas foram analisadas utilizando a análise de conteúdo de Bardin. Resultados mostram que há uma diferença significativa quando observadas as questões relacionadas à percepção de risco mediada por conhecimento científico. Os resultados parecem indicar que essa diferença ocorreu pela relação positiva desses estudantes com a ciência, manifestado no curso onde estão inseridos. Em relação às justificativas, estas se ancoram em opiniões pessoais, sem que haja um conhecimento ou informação explícita que oriente essa resposta. Também foram observadas atitudes valorizadas e rejeitadas para a resolução de problemas em situações de risco.

The changes that have taken place in the last three centuries foster discussions in today's world about the threats posed by scientific and technological advancements, particularly concerning the Enlightenment's project of modernity and its failure due to increased human intervention and degradation of the environment. This theme is explored by Ulrich Beck in his work "Risk Society: Towards a New Modernity," which debates the political, economic, and social potential of scientific and technological advancements in Western society. In this context, the COVID-19 pandemic becomes a particularly interesting topic for discussing these relationships, as it reflects the rapid circulation of goods, risks, and people. Therefore, we propose an exploratory study with undergraduate students majoring in Mathematics and Chemistry on risk perception after an introductory course on risk, using the COVID-19 pandemic as the thematic backdrop. The aim is to understand the process of changing risk perception and establish nontrivial connections between science, technology, society, and the environment. To accomplish this, a peer-validated questionnaire was developed, considering the model of expanded risk perception at two different stages of the course, as well as the justifications provided by the students in the second administration of the questionnaire. The comparison of responses was performed using the Wilcoxon signed-rank test, while the justifications were analyzed using Bardin's content analysis. The results indicate a significant difference when examining the questions related to risk perception mediated by scientific knowledge. The findings suggest that this difference can be attributed to the positive relationship these students have with science, as evidenced by their participation in the course. As for the justifications, they are anchored in personal opinions without explicit knowledge or information guiding these responses. Valued and rejected attitudes for problem-solving in risk situations were also observed.