A presente dissertação é resultado da pesquisa sobre a família Domingos, um clã que por mais de um século viveu no plantio de café, no interior dos estados de Minas Gerais e São Paulo. No processo da investigação, a pesquisadora se viu desafiada a assumir o protagonismo da operação que orientava a dupla trajetória familiar e nela o próprio desempenho. As narrativas coletadas dentro da perspectiva teórica da História Oral levaram a pesquisadora, ao mesmo tempo, à redescoberta de si e à composição de uma épica doméstica capaz de explicar, mais do que estratégias de sobrevivência nas terras dos outros, um enredo de tradições represadas e refeitas de acordo com as possibilidades da vida projetada no presente. O trabalho desenvolveu-se a partir de múltiplas entrevistas com Maria das Graças, que, potencializando a reserva de memória da família Domingos, indicou o caminho da união com outro segmento, Eloy. A sustentação teórica adotada na travessia da pesquisa sugeriu, para além da História Oral enquanto metodologia, a "História Oral de vida" como gênero narrativo. Os diálogos sistemáticos entre a pesquisadora, que é também narradora, e sua rede de colaboradores resultou nas reflexões sobre o seu universo pessoal inscrito no contexto universal, atravessando debates sobre a perpetração da violência, o racismo e a conversão religiosa. Tratou-se de um projeto de produção de conhecimento, no qual a transcriação é o dispositivo vital para narrar experiências da mulher negra no interior do Sul de Minas Gerais e São Paulo

This monography results from research on the Domingos family, a clan that, for over a century, has grown coffee beans in the countryside of the brazilian states of Minas Gerais and São Paulo. As the investigation continued, the researcher felt challenged to protagonize the operation guiding the family trajectory and her performance. The process of unraveling oneself stemmed from narratives that enabled the knitting of a domestic epic capable of explaining survival strategies in a foreign land – a story of repressed and rebuilt traditions according to present life possibilities. Multiple interviews with Maria das Graças helped develop this work. She has enhanced the Domingos family memory by indicating one other segment, Eloy. The theoretical framework supporting this research suggested the Oral History narrative genre – in this case, Oral History of Life. The systematic conversation among the researcher, the narrator, and her collaborators' network led to reflections on her personal universe within a universal context. These insights navigate debates on violence perpetration, racism, and religious conversion. It was a knowledge-producing project where transcreation is vital to narrate the black woman experiences in south Minas Gerais and São Paulo countryside