Este é um estudo comparado entre as nomeações de sexo/gênero, com enfoque nas masculinidades, encontradas nas autobiografias A queda para o alto (1982), de Anderson Herzer (1962-1982), e Erro de pessoa: Joana ou João? (1984), de João W. Nery (1950-2018). Indicaremos as singularidades de nomeação expressas em cada obra que serão confrontadas com suas respectivas recepções críticas literárias e jornalísticas. Dessa maneira, serão verificadas as disparidades entre as expressões autorais e as perspectivas de seus críticos, a fim de indicar o apagamento de masculinidades e não-binaridades dos autores, assim como ressaltar as interpretações patológicas impostas a eles. Em seguida, assinalaremos que parte da crítica sobre Herzer e Nery partilha de um mesmo sistema lógico clássico que a impede de compreender as expressões desses autores como inteligíveis. Assim, será desenvolvida uma reflexão sobre como a lógica clássica faz parte da constituição da inteligibilidade dos sistemas de sexo/gênero hegemônicos para, com isso, investirmos na análise da maneira como Herzer e Nery revelam limitações dos sistemas lógicos clássicos, indicando a necessidade e a existência de outros sistemas lógicos possíveis, como nos apontam as filosofias africanas e ameríndias, cujas lógicas ultrapassam os limites da lógica clássica. Por fim, será verificado como as obras de Herzer e de Nery suscitam a revisão do conceito canônico de autobiografia, assim como revelam a violência ética contida no apagamento de certas autonomeações dos autores.

This is a comparative study between sex/gender naming, focusing on masculinities, found in the autobiographies A queda para o alto (1982), by Anderson Herzer (1962-1982), and Erro de pessoa: Joana ou João? (1984), by João W. Nery (1950-2018). We will indicate the naming singularities expressed in each work, which that will be confronted with their respective literary and journalistic critical receptions. Thus, the disparities between the authorial expressions and the perspectives of their critics will be verified, in order to indicate the erasure of masculinities and non-binarities of the authors, as well as it will highlight the pathological interpretations imposed on them. Then, we will point out that part of the criticism about Herzer and Nery shares the same classical logical system that prevents it from understanding the expressions of these authors as intelligible. Therefore, a reflection on how classical logic is part of the constitution of the hegemonic sex/gender systems intelligibility will be developed, which will enable us to invest in the analysis of how Herzer and Nery disclosure limitations of classical logical systems, indicating the need and existence of other possible logical systems, as the African and Amerindian philosophies point out, whose logics go beyond the limits of classical logic. Finally, it will be verified how the works of Herzer and Nery raise the review of the canonical concept of autobiography, as well as they reveal the ethical violence contained in the erasure of certain authors' self-nominations.