Este trabalho insere-se no campo dos estudos relativos à literatura e ensino, com especial interesse nas práticas de mediação de leitura literária em contexto escolar. Realizamos um projeto de ensino com autobiografias de leitor e diários de leitura (MACHADO, 1998; LEJEUNE, 2014) durante três anos em uma escola pública federal da cidade do Rio de Janeiro e, a partir dessa experiência, apresentaremos e analisaremos a contribuição dessas escritas subjetivas (FRUGONI, 2017) para os processos de formação do leitor literário, compreendendo-as como ferramentas mediadoras importantes que dão concretude às apropriações singulares da relação leitor-texto (ROUXEL, 2012), bem como a seus atravessamentos contextuais e intersubjetivos. Por meio de pesquisa bibliográfica e análise documental como principais métodos de investigação, propusemos de início um levantamento histórico das problemáticas em torno dos objetivos e práticas de ensino de literatura, apontando questões que ainda sustentam a vacilação didática frente aos seus objetivos e especificidades metodológicas (COLOMER, 2001; ZILBERMAN, 2009; MONTES, 2017; PONDÉ, 2017), além de apontar algumas fissuras que tornam desigual o direito à literatura (CANDIDO, 1970). Em seguida, propusemos algumas alternativas à perspectiva hegemônica de ensino de literatura, dando centralidade ao leitor empírico, à leitura subjetiva e à literatura enquanto prática cultural. Nesse sentido, defendemos a dimensão narradora dos sujeitos (RICOUER, 2011; BRUNER, 2014; PETIT, 2013) como fundamento epistemológico, princípio de um agir educativo (FREIRE, 1996) que contribui para a implicação dos estudantes em seus processos de aprendizagem em uma perspectiva inventiva, autoral, comunitária e emancipatória. A partir desses pressupostos, analisamos as autobiografias de leitor e, principalmente, os diários de leitura produzidos pelos estudantes, com vistas a comprovar a hipótese de que o diário de leitura é capaz de forjar outras espaciotemporalidades (PARENTE, 2010), favorecendo uma relação processual e dialógica do leitor com os textos lidos em sala de aula (BAJOUR, 2012). Além disso, conjuga subjetividade e análise (SOUZA, 2018) e contribui para que os estudantes se apropriem de seus processos de formação leitora, legitimando seu pertencimento a uma comunidade cultural.

This research is part of the field of studies related to literature and teaching, with special interest in literary reading mediation practices in the school context. From a teaching project with readers' autobiographies and reading diaries (MACHADO, 1998; LEJEUNE, 2014), carried out for three years in a federal public school in the city of Rio de Janeiro, we intend to present and analyze the experience with these subjective writings (FRUGONI, 2017), reflecting on their contributions to the processes of literary reader formation. We understand these writings as important mediating tools that give concreteness to the singular appropriations of the readertext relationship (ROUXEL, 2012), as well as their contextual and intersubjective crossings. The work is carried out through bibliographic research and documentary analysis as the main methods of investigation. We initially propose a historical survey of the objectives and practices of literature teaching, pointing out issues that still sustain didactic vacillation in view of its objectives and methodological specificities (COLOMER, 2001; ZILBERMAN, 2009; MONTES, 2017; PONDÉ, 2017), in addition to pointing out some cracks that make unequal the right to literature (CANDIDO, 1970). Next, we seek to present alternatives to the hegemonic perspective of literature teaching, giving centrality to the empirical reader, to subjective reading and to literature as a cultural practice. In this sense, we defend the Narrating Dimension of the subjects (RICOUER, 2011; BRUNER, 2014; PETIT, 2013) as an epistemological foundation, the principle of an educational action (FREIRE, 1996) that contributes to the involvement of students in their learning processes in an inventive, authorial, community and emancipatory perspective. Based on these assumptions, we analyzed the readers' autobiographies and, mainly, the reading diaries produced by the students, in order to prove the hypothesis that the reading diary is capable of forging other spatiotemporalities (PARENTE, 2010), favoring a procedural and dialogical relationship between readers and the texts read in classroom (Bajour, 2012), in addition to combining subjectivity and analysis (Souza, 2018) and contributing to students appropriating their reading training processes, legitimizing their belonging to a cultural community.