Publicado por Chico Buarque em 2003, Budapeste apresenta aos leitores a enigmática narrativa, cuja identidade do narrador é um dos mistérios, sobre a oscilante trajetória de José Costa entre o Rio e Budapeste, o português e o húngaro, Vanda e Kriska. Ghostwriter de sucesso, produz sua obra em diferentes gêneros e línguas que o faz ora emergir da matéria narrativa, ora em seu fluxo afogar-se: ao final parece haver apenas espelhos vazios face a face em abismo sem identidade. À primeira vista o romance soa como versão globalizada de artefato autônomo sem ligação com o mundo referencial, cuja potência repousa na instituição de uma lógica meramente artística, possível apenas no campo artístico: labirinto em que se perdem narradores, autor, língua, mundo, do qual apenas a obra consegue sair incólume. Todavia os jogos narrativos revelam-se calcados no chão social do Brasil contemporâneo saído de uma ditadura militar que cortara o tempo ao meio: o domínio das técnicas narrativas da indústria cultural e a pretensão de obra impossível funcionam como falseamento de uma realidade inconciliável. Neste trabalho abordaremos a paranoia objetiva , forma social, no presente romance: como a objetividade social do país, que nunca realizou a Formação , conformou o narrador de Budapeste sintomaticamente, estruturando obra e mundo.

Published by Chico Buarque in 2003, Budapest presents its readers to the enigmatic narrative, whose narrator's identity is one of the mysteries, about José Costa's oscillating trajectory between Rio and Budapest, Portuguese and Hungarian, Vanda and Kriska. Ghostwriter of success, he produces his oeuvre in different genres and languages which makes him either emerge from the narrative substance or drown in its flow: in the end there seems to be only empty mirrors face to face in abyss without identity. At first glance, the novel sounds like a globalized version of an autonomous artifact with no connection to the referential world, whose power lies in the institution of a purely artistic logic, possible only in the artistic field: a labyrinth in which narrators, author, language and world get lost, from which only the work of art may leave unscathed. However, the narrative games are revealed to be based on the social ground of contemporary Brazil, emerging from a military dictatorship which had cut time in half: the mastery of the narrative techniques of the cultural industry and the pretension of an impossible work of art function as a falsification of an irreconcilable reality. In this work we shall approach the objective paranoia , a social form, in the present novel: how the social objectivity of the country, which never carried out the Formation, symptomatically conformed Budapest narrator, structuring the work of art and the world.