O conto de fadas permanece no imaginário popular e continua sendo contado e recontado. Neste estudo, busca-se, por meio da análise comparativa de diversos processos de atualização do discurso narrativo literário, observar a relação dialógica entre um conto de fadas, Branca de Neve em sua versão de Wilhelm e Jacob Grimm, do século XIX, tomada aqui como conto de partida e duas narrativas curtas contemporâneas, também chamadas Branca de Neve, das autoras portuguesas Lídia Jorge e Maria Teresa Horta. Duas premissas teóricas norteiam o trabalho: a primeira é que a Literatura é um discurso estético, e, como tal, é histórica, dialógica, social e ideológica (BAKHTIN, 1988, 1997; BENVENISTE, 1976); sendo, pois, o conto um discurso literário, entende-se que ele é também definido pelas características do discurso apontadas. Desse modo, como uma forma histórica (PONTIERI, 2012), pode-se dizer que o conto se atualiza no tempo, transformando-se sem nunca romper totalmente com suas formas anteriores. A segunda premissa teórica que direciona esta pesquisa é a que o texto literário narrativo é um discurso figurativo, no qual se figuram as três categorias de mundo: sujeito, tempo e espaço (BENVENISTE, 1976). A partir destas premissas, o trabalho busca entender como os contos contemporâneos atualizam a figura da protagonista Branca de Neve, dos Grimm, nas figuras das protagonistas Branca e Maria da Graça, respectivamente de Maria Teresa Horta e Lídia Jorge, assim como suas relações com o espaço narrativo e o papel da violência como elemento narrativo, tomando, sempre, como ponto de partida, o conto dos Irmãos Grimm. Duas hipóteses são investigadas nesta pesquisa: a primeira e mais ampla diz que, sendo o conto uma forma histórica, ele se atualiza no tempo e, uma vez que não é possível uma ruptura completa com relação às formas anteriores, os contos contemporâneos analisados deverão conter atualizações de elementos constitutivos personagens, enredo, narrador, tempo e espaço do conto de fadas, mantendo uma relação dialógica com ele. A segunda hipótese, que deriva da existência dessa atualização seja como continuidade ou como ruptura do conto de fadas nas narrativas contemporâneas , é a de que a violência está presente em todos os elementos narrativos dos contos e é em torno dela que o processo de atualização e a relação dialógica entre os contos se fundamenta

The fairy tale remains in popular imagination and continues to be told and retold. In this study, through a comparative analysis of various processes of updating literary narrative discourse, the aim is to observe the dialogic relationship between a fairy tale, Snow White in its version by Wilhelm and Jacob Grimm from the 19th century, taken here as the starting tale and two contemporary short narratives, also called Snow White, by Portuguese authors Lídia Jorge and Maria Teresa Horta. Two theoretical premises guide the work: the first is that Literature is an aesthetic discourse, and as such, it is historical, dialogic, social, and ideological (BAKHTIN, 1988, 1997; BENVENISTE, 1976); therefore, as a literary discourse, it is understood that the fairy tale is also defined by these discourse characteristics. Thus, as a historical form (PONTIERI, 2012), it can be said that the fairy tale updates itself over time, transforming without ever completely breaking away from its previous forms. The second theoretical premise that directs this research is that the narrative literary text is a figurative discourse, in which the three categories of the world are figured: subject, time, and space (BENVENISTE, 1976). Based on these premises, the work seeks to understand how the contemporary tales update the figure of the protagonist Snow White from the Grimms' version, in the figures of the protagonists Branca and Maria da Graça, respectively by Maria Teresa Horta and Lídia Jorge, as well as their relationships with the narrative space and the role of violence as a narrative element, always taking the Brothers Grimm's tale as a starting point. Two hypotheses are investigated in this research: the first and broader one states that, being a historical form, the fairy tale updates itself over time and, since a complete rupture with previous forms is not possible, the analyzed contemporary tales should contain updates of constitutive elements characters, plot, narrator, time, and space of the fairy tale, maintaining a dialogic relationship with it. The second hypothesis, which derives from the existence of this update whether as continuity or rupture of the fairy tale in contemporary narratives is that violence is present in all narrative elements of the tales and that the process of updating and the dialogic relationship between the tales are grounded in it