De difícil apreensão no tempo e espaço, a figura errante de Samuel Rawet desafia leitores, pesquisadores e curiosos. Ao longo de sua recepção crítica, alguns dados foram consolidados por pesquisas, estudos e entrevistas suas. Por isso, a tese parte das relações intelectuais mantidas por Rawet no período anterior à publicação de Contos do imigrante (1956). O conjunto de dados revela uma atuação acentuada no teatro carioca nos idos de 1940 e 1950, especialmente nos textos publicados na extinta Revista Branca. Ainda nesse aspecto, estão imbricadas outras relações afetivas e editoriais, a exemplo da contribuição paralela mantida na Crônica dos Novos e, mais tarde, um litígio contra a Editora Bloch, além da presença em coletâneas e antologias que atravessam a vida editorial de Rawet, o que denota processos de parcerias e circulação. Por meio de elementos textuais e paratextuais, o primeiro capítulo reconstrói essas cinco dimensões biografemáticas para entender Rawet como uma figura eminentemente teatral. No segundo capítulo, recolhe-se sua produção na Revista Branca, a evidenciar o interesse pelo teatro em nove dos doze textos ali publicados. Trata-se de produção quase toda inédita em livro, com estabelecimento e notas, que situa Rawet no debate inicial em torno do nascimento do teatro moderno no Brasil. No terceiro capítulo, como linhas de força desse conjunto crítico, três figuras se sobrepõem: Machado de Assis, Oswald de Andrade e Nelson Rodrigues. A tríade reforça a vinculação de Rawet nas dimensões historiográficas, jornalísticas e criadoras de uma crítica teatral que se ocupava de seu tempo e de outras épocas, como prova o interesse de Rawet por Sófocles e Tchekhov e pelas discussões sobre as formas teatrais. A homenagem a Ziembinski, num ensaio-necrológio publicado no Correio Brasiliense, os manuscritos conservados de peças teatrais, as notas fiscais de livrarias, a correspondência com o editor Wladyr Nader, materiais resguardados no espólio do escritor no Acervo-Museu de Literatura Brasileira da Casa de Rui Barbosa, desmentem a postura pública de um escritor que, em certa altura, passou a renegar o teatro. Quase como um trickster, Rawet despistava a crítica dizendo ter rasgado todas as suas peças teatrais. A partir desse corpus, afirma-se que Rawet nunca abandonou o teatro e morreu tentando publicar sua dramaturgia. Ou seja, o Rawet-criador constrói uma produção com vistas a atingir o que Machado de Assis definiu como Crítico do Futuro.

Difficult to grasp in time and space, the wandering figure of Samuel Rawet challenges readers, researchers and the curious. Throughout its critical reception, some data were consolidated by research, studies, and interviews with him. Therefore, the thesis starts from the intellectual relationships maintained by Rawet in the period before the publication of Contos do imigrante (1956). The dataset reveals an accentuated performance in the Carioca theater in the 1940s and 1950s, especially in the texts published in the extinct Revista Branca. Still in this aspect, other affective and editorial relationships are imbricated, such as the parallel contribution maintained in Crônica dos Novos and, later, a dispute against Editora Bloch, in addition to the presence in collections and anthologies that cross the editorial life of Rawet, the which denotes processes of partnerships and circulation. By means of textual and paratextual elements, the first chapter reconstructs these five biographematic dimensions to understand Rawet as an eminently theatrical figure. In the second chapter, his production is gathered from Revista Branca, showing the interest in theater in nine of the twelve texts published there. It is a production almost entirely unpublished in a book, with an outline and notes, which places Rawet in the initial debate around the birth of modern theater in Brazil. In the third chapter, as lines of force of this critical set, three figures overlap: Machado de Assis, Oswald de Andrade and Nelson Rodrigues. The triad reinforces Rawet's connection in the historiographical, journalistic and creative dimensions of a theatrical criticism that dealt with his time and other ages, as evidenced by Rawet's interest in Sophocles and Chekhov and in discussions about theatrical forms. The homage to Ziembinski, in an essay-mortem published in the Correio Brasiliense, the preserved manuscripts of plays, the invoices from bookstores, the correspondence with the editor Wladyr Nader, materials kept in the writer's estate in the Collection-Museu de Literatura Brasileira da Casa de Rui Barbosa, belie the public stance of a writer who, at a certain point, began to deny the theater. Almost like a trickster, Rawet fooled the critics by claiming to have torn up all his plays. From this corpus, it is stated that Rawet never abandoned the theater and died trying to publish his dramaturgy. In other words, the Rawet-creator builds a production with a view to achieving what Machado de Assis defined as Critic of the Future.