Esta dissertação tem por objetivo estudar a formação de professores iniciantes de FLE pela perspectiva do ensino como trabalho. De maneira mais específica, nos propomos a estudar quais as dificuldades e conflitos que os professores enfrentam em seu trabalho, como representam esses conflitos e como os solucionam por meio de métodos que propõem verbalizações sobre as situações de trabalho e discussões com seus pares e com o conjunto de professores. Tomamos por base uma visão interdisciplinar envolvendo duas das Ciências do Trabalho - Clínica da Atividade (CLOT, 2001a, 2010) e Ergonomia da Atividade (AMIGUES, 2003; 2004; SAUJAT, 2004; FAÏTA, 2004) - e o Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 1999, 2006, 2008). Esta pesquisa foi desenvolvida no contexto dos cursos Extracurriculares da FFLCH-USP, utilizando os métodos indiretos da autoconfrontação e da instrução ao sósia. Ao propor momentos de verbalização sobre o trabalho, esses métodos se fundamentam nos conceitos de Vygotski (2018), principalmente no que se refere à importância da linguagem no desenvolvimento humano. Servimo-nos também de Bronckart e Machado (2004), pois estes afirmam que o estudo de textos produzidos em situações de trabalho torna possível a compreensão do trabalho do professor no que diz respeito a aspectos de interpretações, representações e avaliações que socialmente se constroem sobre o agir concreto. Sendo assim, para a análise das verbalizações dos professores, nos baseamos no interacionismo sociodiscursivo (BRONCKART, 1999/2007). O corpus desta pesquisa consiste em excertos das autoconfrontações simples e cruzada e de excertos do retorno da instrução ao sósia. Os resultados mostraram que, através das autoconfrontações e da instrução ao sósia, os professores puderam verbalizar sobre suas dificuldades e conflitos, o que os levou a refletir sobre sua prática em uma coanálise juntamente com as intervenientes, possibilitando que a experiência vivida pudesse ser revivida em um novo contexto (CLOT, 2001a). Esse desdobramento da experiência, segundo Clot (2010) pode contribuir para aumentar o poder de agir do trabalhador. Dentre as contribuições destacamos uma, que diz respeito ao uso combinado da autoconfrontação com a instrução ao sósia e outra para o quadro teórico que mobilizamos: a retomada das reflexões, já trazidas por Lousada (2021), com relação aos termos: dificuldades, conflitos e dilemas, para melhor entendermos quais as inquietações dos professores iniciantes de FLE no início do exercício do seu trabalho.

This thesis aims to study the development of beginner FSL teachers from the perspective of teaching as work. More specifically, we propose to study what difficulties and conflicts teachers face in their work, how they represent these conflicts and how they resolve them through methods that propose verbalizations about work situations and discussions with their peers and with the group of teachers. We take as our theoretical base an interdisciplinary view involving two of the Work Sciences - Activity Clinic (CLOT, 2001a, 2010) and Activity Ergonomics (AMIGUES, 2003; 2004; SAUJAT, 2004; FAÏTA, 2004) - and Sociodiscursive Interactionism (BRONCKART, 1999, 2006, 2008). This research was developed in the context of Extracurricular courses at FFLCH-USP, using the indirect methods of self-confrontation and instruction to the double. By proposing moments of verbalization about work, these methods are based on the concepts of Vygotski (2018), especially regarding the importance of language in human development. We also used Bronckart and Machado (2004), as they claim that the study of texts produced in work situations makes it possible to understand the teacher's work with regard to aspects of interpretations, representations and assessments that are socially built on the concrete acting. Thus, for the analysis of the teachers' verbalizations, the socio-discursive interactionism (BRONCKART, 1999/2007) underlies the research. The corpus of this research consists of excerpts from simple and cross self-confrontations interviews and excerpts from the return of the instruction to the double. The results showed that, through self-confrontations and instruction to the double, teachers were able to verbalize about their difficulties and conflicts, which led them to reflect on their practice in a co-analysis together with the interveners, enabling the lived experience to be relived in a new context (CLOT, 2001a). This unfolding of experience, according to Clot (2010), can contribute to increase the worker's power to act. Among the contributions, we highlight one, which concerns the combined use of self-confrontation with instruction to the double, and another for the theoretical framework we mobilized: the use of reflections, already brought by Lousada (2021), regarding the terms: difficulties, conflicts and dilemmas, to better understand the concerns of beginning FSL teachers at the beginning of their work.