O presente trabalho propõe uma leitura do livro da escritora mexicana Margo Glantz, Historia de una mujer que caminó por la vida con zapatos de diseñador , publicado em 2005. O texto, de difícil classificação no que toca ao gênero discursivo, reúne características de categorias textuais diversas, entre as quais se destacam a autobiografia, a autoficção e o ensaio. As fronteiras de gênero textual, de voz enunciativa e, mesmo, as fronteiras identitárias são imprecisas. Neste livro, reunião de relatos e fragmentos, a personagem principal, Nora García, é uma intelectual que narra episódios em uma primeira pessoa instável. Proponho que três elementos podem ser destacados de maneira transversal na busca de sentido destes relatos: o corpo, a fragmentação e o movimento. Assim, no primeiro momento, analiso as estratégias de representação do corpo, que não pode contornar o fato de ser um corpo feminino e, ato contínuo, de produzir um texto a partir dessa sensibilidade. No segundo momento, com base principalmente na obra crítica de Margo Glantz, investigo o papel da fragmentação do texto e do corpo feminino, que ela considera mutilado (literária e socialmente). No terceiro momento, observo o papel das viagens e do deslocamento de Nora García de maneira geral, bem como suas relações com a fragmentação do texto e do corpo analisadas anteriormente. Tomo, portanto, conceitos de corpo, fragmentação e deslocamento para analisar como, na falta de pertencimento subjetivo e formal, Margo Glantz constrói abrigos efêmeros de corpo e de palavras.

This present work proposes a reading of Historia de una mujer que caminó por la vida con zapatos de diseñador, a book by the mexican writer, Margo Glantz, published in 2005. Its text, which is difficult classify in terms of discourse genres, brings and binds together aspects of a number of categories, such as autobiography, autofiction and essay. The boundaries of the discourse genres, enunciative voices and even identity boundaries are imprecise. In this book, a gathering of accounts and fragments, the main character, Nora García, is an intellectual who narrates episodes in an unstable first person. I propose that three elements can be highlighted transversely in the search for meaning of these accounts: the body, the fragmentation and the movement. Therefore, initially, I analyze the strategies of body representation, that cannot circumvent the fact that it is a female body and whilst producing a text that stems from this sensibility. Secondly, based mainly on Margo Glantz's critical work, I investigate the role of fragmentation of the text and the female body, which the author considers mutilated (literary and socially). I, therefore, take concepts of body, fragmentation and displacement to analyze how, in the absence of subjective and formal belonging, Margo Glantz builds ephemeral shelters of body and words.