Este trabalho disserta sobre a obra Terror e miséria do Terceiro Reich (Furcht und Elend des Dritten Reiches), de Bertolt Brecht. O autor escreveu o conjunto de cenas que compõe a obra entre os anos de 1936 e 1937 durante o exilio e buscou representar de maneira ampla e totalizante a sociedade alemã sob o processo da Gleichshaltung (sincronização) nazista. Terror e miséria faz parte da atuação e formulação anti-fascista de Brecht, por isso buscamos nesse trabalho compreender a forma da peça como elemento tático contra o fascismo, principalmente levando em conta a política da Frente Popular anti-fascista que o movimento comunista adotava internacionalmente. Para isso, buscamos fazer um levantamento histórico do contexto político que rodeia a peça e verificar como o autor se situa na discussão entre o realismo e as vanguardas. Acreditamos que a peça é fruto dessa discussão, pois usa elementos do teatro aristotélico e do realismo sem abrir mão da forma épica e a instrumentalização social e política que ela implica. Deste modo, no primeiro capítulo dessa dissertação desenvolvemos as questões históricas e estéticas que circundam a escolha da forma hibrida da peça, a saber, a presença tanto de elementos aristotélicos como de elementos épicos. Assim, inserimos a peça e a recepção dela por parte de Lukács e Benjamin no chamado debate sobre expressionismo travando uma discussão entre os autores e traçando em contrapartida o que Brecht busca aproveitar da forma realista. Em seguida dissertamos sobre a tática Cavalo de Tróia pesente na peça segundo os críticos Jhon e Ann White, que consiste em inserir de maneira disfarçada elementos épicos no interior dos elementos aristotélicos através de dispositivos de estranhamento. Na segunda parte do presente estudo buscamos ver essas estratégias em ato, fazendo análises das cenas a partir dessa relação entre elementos aristotelicos e épicos. Para isso, nos apropriamos da teoria teatral brechtiana para verificar como Brecht figura um realismo dialético na sua tática artística anti-fascista. Sendo uma obra singular na trajetória de Brecht pelo uso de recursos da dramaturgia tradicional mas ainda assim submetidos a refuncionalização (Umfunktionierung) brechtiana, a partir deste percurso, pudemos verificar como Terror e miséria do Terceiro Reich se situa estratégicamente de maneira própria diante da estética anti-fascista; entre as formas do ortodoxo realismo socialista por um lado e do drama ilusionista do mundo burguês por outro

This work discusses the work Fear and Misery of the Third Reich (Furcht und Elend des Dritten Reiches), by Bertolt Brecht. The author wrote the set of scenes that make up the work between 1936 and 1937 during exile and sought to represent in a broad and totalizing way German society under the Nazi Gleichshaltung (synchronization) process. Fear and misery are part of Brecht's anti-fascist action and formulation, so in this work we seek to understand the form of the play as a tactical element against fascism, mainly taking into account the anti-fascist Popular Front policy that the communist movement adopted internationally. For this, we seek to make a historical survey of the political context that surrounds the play and verify how the author stands in the discussion between realism and avant-garde. We believe that the play comes from this discussion, it uses elements of Aristotelian theater and realism without giving up the epic form and the social and political instrumentalization that this form implies. Thus, in the first chapter of this dissertation we develop the historical and aesthetic questions that involve the choice of the hybrid form of the play, namely, the presence of Aristotelian and epic elements. Therefore, we insert the play and its reception by Lukács and Benjamin in the so-called debate on expressionism, engaging in a discussion between the authors and tracing in contrast what Brecht seeks to appropriate from the realistic form. Then, we discuss the Trojan Horse tactic present in the play according to the critics John and Ann White, which consists of inserting epic elements in a disguised way within the Aristotelian elements through estranging devices. In the second part of the present study, we try to see these strategies in action, analyzing the scenes from this relationship between Aristotelian and epic elements. For this, we appropriate Brechtian theatrical theory to verify how Brecht figures a dialectical realism in his anti-fascist artistic tactics. Being a unique work in Brechts career due to the use of resources from traditional dramaturgy but still submitted to Brechtian refunctionalization (Umfunktionierung), from this path, we can see how the Fear and misery of the Third Reich are strategically located in their own way in the face of anti-fascist aesthetics, between the forms of orthodox socialist realism on the one hand and the illusionist drama of the bourgeois world on the other