Nesse trabalho procuramos compreender os usos estratégicos da demonização de adversários religiosos no contexto dos conflitos sectários que ocorreram no Norte da África entre os séculos IV e V d.C. Nosso intuito é identificar como, e em quais contextos específicos, os cristãos envolvidos nas disputas suscitadas pela controvérsia donatista moldaram e reforçaram identidades coletivas por meio da oposição aos adversários religiosos. Por meio de estudos de casos, buscamos analisar o processo de demonização dos adversários a partir das construções das memórias sociais, das identidades relacionadas às histórias de violências e ao legado dos mártires. Buscamos compreender, também, como os agentes envolvidos nas ações de violência coletiva conceberam essas ações como uma forma de "combate ao diabo". Por fim, nosso objetivo é entender como o mesmo discurso foi mobilizado pelos dois lados da disputa e quais os usos estratégicos dessa concepção.

In this study, we seek to understand the strategic uses of demonizing religious adversaries in the context of the sectarian conflicts that occur in North Africa between the 4th and 5th centuries AD. Our aim is to identify how, and in what contexts, Christians involved in the disputes raised by the donated controversy shaped and reformed identities through opposition to religious opponents. Through case studies, we seek to analyze the process of demonization of opponents, from the construction of social memories, identities related to stories of violence and the legacy of martyrs. We also seek to understand how the agents involved in collective violence actions conceived these actions as a form of "struggle against devil". Finally, our goal is to understand how the same speech was mobilized on both sides of the dispute and what the strategic uses are in this way.