O presente estudo tem por objetivo analisar aspectos devocionais e políticos do teatro sacro de D. Pedro Calderón de la Barca, poeta do Século de Ouro Espanhol que ganhou considerável destaque no seio da sociedade de corte. Para tal, utilizam-se como fontes principais seus autos sacramentais, dramas alegóricos de temática eucarística, que se tornaram relevantes nos domínios ibéricos durante o Antigo Regime não apenas por sua qualidade poética, mas também pelo papel pedagógico que assumiam no contexto festivo do Corpus Christi em que eram anualmente representados. De modo que, sem desconsiderar o conjunto da obra, reservamos especial atenção para os autos El gran teatro del mundo (1633-1635) e La vida es sueño (1673), que acreditamos conter uma espécie de síntese da cosmovisão do poeta e, por extensão, de seus coetâneos peninsulares. Diz-se isso pois, como se procura demonstrar, as noções de mundo como teatro e da vida como sonho, em franco diálogo com os ensinamentos da literatura espiritual e tratadística política então em voga, trazem à tona preocupações caras ao homem barroco, como a fugacidade da vida terrena em face às realidades eternas. Procura-se, ademais, situar o autor e sua produção em relação aos movimentos mais amplos de Reforma da Igreja Católica e Reforma Protestante, bem como em relação à instabilidade política, social e econômica que caracterizou o século XVII.

This study aims to analyze devotional and political aspects of the sacred theater of D. Pedro Calderón de la Barca, poet of the Spanish Golden Age, who gained considerable prominence within the Court Society. For this purpose, our sources are the autos sacramentales. Allegorical dramas, mostly on a Eucharistic theme, which became relevant for its poetic quality and pedagogical role. The autos sacramentales were present in the Iberian domains during the Ancient Regime and could be seen by all as they were performed outdoors as part of the feast of Corpus Christi celebration. Without disregarding the autos sacramentales as a whole, this study pays particular attention to the autos El gran teatro del mundo (1633-1635) and La vida es sueño (1673). These two dramatic representations contain a kind of synthesis of the poet's worldview and, by extension, of his peninsular peers. The reason is that the notions of the world as theater and life as a dream were in frank dialogue with the teachings of the spiritual literature and political treatises then in vogue, bringing up concerns of the Baroque man, such as fleetingness of earthly life. Lastly, this study seeks to situate the author and his production in relation to the Catholic Reformation and Protestant Reformation movements, as well as in relation to the political, social and economic instability that characterized the 17th century.