A partir de 1988, com a nova Constituição, o Brasil pôde vislumbrar um cenário de ampliação de direitos sociais e políticos dos povos quilombolas. Porém, essa caminhada foi trilhada de forma turbulenta, na qual se fez necessário rediscutir o que eram esses quilombos e quais suas necessidades no mundo contemporâneo. Se antepondo a uma História colonial que os consolidava de forma classificatória como comunidades restritas, estáticas e isoladas, os quilombos contemporâneos passaram a reivindicar suas identidades. Para compreender os impactos dessas transformações, a História Oral é incorporada como metodologia, resgatando através das memórias dos moradores do Quilombo de Camburi, no litoral norte paulista, a complexidade desse processo histórico. A discussão engloba a trajetória de institucionalização do reconhecimento da comunidade como Quilombo, com base na autodefinição, sua formação cultural e étnica e os embates políticos que são travados para a garantia dos direitos básicos. A escolha de olhar para as trajetórias individuais dos moradores tem como objetivo assegurar a importância do protagonismo quilombola frente ao cenário político, buscando ressaltar que a História também lhes pertence.

Beginning in 1988, with the new Constitution, Brazil was able to glimpse a scenario of increased social and political rights for quilombola peoples. However, this path was trodden in a turbulent way, in a way that it became necessary to rediscuss what these quilombos were and what were their needs in the contemporary world. In opposition to a colonial history that consolidated them in a classificatory way as restricted, static, and isolated communities, the contemporary quilombos began to claim their identities. In order to understand the impacts of these transformations, the Oral History is incorporated as methodology, rescuing through the memories of the residents of the Camburi Quilombo, in the northern coast of São Paulo, the complexity of this historical process. The discussion encompasses the trajectory of institutionalization of the recognition of the community as a Quilombo, based on self-definition, its cultural and ethnic formation, and the political battles that are waged to guarantee basic rights. The choice of looking at the individual trajectories of the residents aims to ensure the importance of the Quilombola protagonism in the political scenario, seeking to emphasize that history also belongs to them.