Partindo-se da perspectiva da História Intelectual, buscou-se identificar qual o lugar do Império Otomano, notadamente a porção balcânica de seu território, na obra do historiador alemão Leopold von Ranke (1795-1886). De início estabeleceu-se um diálogo com a fortuna crítica de Ranke com o objetivo de mostrar como a questão da abrangência temática em sua obra é ponto de debate entre os comentadores que se dividem entre aqueles que enxergam Ranke como eurocêntrico e aqueles que o vêm como um pesquisador que trabalhou com um arcabouço geográfico de abrangência mundial e incluiu várias culturas em seu amplo trabalho historiográfico. Em seguida foi entendido que um olhar panorâmico colabora no sentido de mostrar como o Império Otomano é tema frequente no conjunto da obra de Ranke, o que trouxe um levantamento orientado pela quantificação lexical de palavras ligadas ao mundo otomano em todas as obras do historiador. Estabelecido este argumento de que há presença constante do Império Otomano nos escritos rankeanos, passou-se a entender sob quais estatutos e relações os otomanos aparecem -- primeiramente no contexto político-diplomático da Questão Oriental e em segundo lugar no contexto acadêmico-intelectual da profissionalização crescente dos estudos orientalistas na Alemanha. Além desses contextos, percebeu-se que o Império Otomano em Ranke tem relação próxima com um elemento psicológico que data de séculos, pois a presença otomana participa do imaginário germânico de forma ambígua -- evocando medo e mistério, repulsa e encanto. Ranke toma parte nessa tradicional evocação intelectual, política e sentimental do mundo otomano e também em sua obra o Império Otomano colabora para a formação da identidade europeia ao oferecer um diálogo perene repleto de complexidade política, intelectual e emocional.

Starting from the Intellectual History's perspective, the objective was to identify the place of the Ottoman Empire, notably the Balkan portion of its territory, in the work of the German historian Leopold von Ranke (1795-1886). Initially, a dialogue was established with Ranke's critical fortune in order to show how the issue thematic scope in his work is a point of debate among commentators who are divided between those who see Ranke as Eurocentric and those who see him as a researcher who has worked with a worldwide geographic framework and has included several cultures in his extensive historiographical work. Then, it was understood that a panoramic perspective helps to show how the Ottoman Empire is a frequent theme in Ranke's work, which was brought through a survey guided by the lexical quantification of words linked to the Ottoman world in all of the historian's works. Having established the argument that there is a constant presence of the Ottoman Empire in Rankean writings, it came to be understood under what statutes and relations the Ottomans appear -- firstly in the political-diplomatic context of the Eastern Question and secondly in the academic-intellectual context of growing professionalization of Orientalist studies in Germany. In addition to these contexts, it was noticed that the Ottoman Empire in Ranke has a close relationship with a psychological element that dates back centuries, as the Ottoman presence participates in the Germanic imagination in an ambiguous way - evoking fear and mystery, repulsion and enchantment. Ranke takes part in this traditional intellectual, political, and sentimental evocation of the Ottoman world and also in his work the Ottoman Empire contributes to the formation of European identity by offering a perennial dialogue full of political, intellectual and emotional complexity.