A presente pesquisa parte da reflexão sobre o desenvolvimento das narrativas que apresentam alguma forma de viagem no tempo, analisa a sua origem no século XIX e a sua função social como mediadora entre as sociedades e as mudanças e permanências. Investigou-se como nas décadas de 50 e 60, período marcado por grandes transformações mundiais, os enredos com as mais diversas formas e destinos de viagem no tempo expressaram como as sociedades, grupos e indivíduos interpretavam o presente, contemplavam os mais diversos prognósticos para o futuro e difundiam visões sobre o passado. Em uma época marcada pela Guerra Fria e a ascensão dos Estados Unidos da América como superpotência, as histórias de viagem no tempo produzidas nos EUA são uma fonte indispensável para se compreender como eram encadeados passado, presente e futuro e as mudanças e as possibilidades de transformações sentidas e propagadas. Para se compreender melhor o contexto do segundo pós-guerra, foi escolhido como documento histórico central a série de televisão Além da Imaginação (The Twilight Zone), exibida originalmente entre 1959-1964 e reprisada até hoje. O programa, criado e produzido por Rod Serling, que também assinava a maior parte dos roteiros, é um dos ícones culturais dos EUA e a sua importância na história da televisão mundial, dado sua exportação e influência, é um indicativo da relevância dessa série, observada nesta pesquisa, como um documento crítico de seu contexto histórico. Por exibir de forma reiterada narrativas com as mais diversas formas de viagem no tempo, muitos episódios de Além da Imaginação permitem a percepção de como as mudanças e permanências estavam sendo criticadas, promovidas e vividas, nos EUA no segundo pós-guerra. A viagem no tempo na série exprimiu ímpetos nostálgicos, diagnósticos do presente e perspectivas de futuro, propondo, no modelo criado por Rod Serling de um universo fantástico moralista, a reavalição do presente nos EUA e a correção do que era visto como inadequado para o progresso humano.

The present research starts with the reflection on the development of narratives that display some form of time travel, analyzes its origin in the 19th century and its social function as a mediator between societies, the changes and the permanences. It was investigated how, in the 50s and 60s, a period of remarkable world transformation, the most diverse plots containing time travel expressed how societies, groups and individuals interpreted the present, disseminated perceptions of the past and contemplated prognoses for the future. In a time marked by the Cold War and the rise of the United States of America as a superpower, the time travel stories produced in the US are an indispensable source for understanding how past, present, and future were linked, and the changes and possibilities for transformation were felt and propagated. In order to better understand the context of the second postwar period, The Twilight Zone television series, originally screened between 1959-1964 and still airing in reruns, was chosen as a main historical document. This television show created and produced by Rod Serling, who also signed most of the screenplays, is one of the cultural icons of the US and its importance in the history of world television given its influence and spread is indicative of the relevance of this series. The Twilight Zone is regarded in this research as a critical document of its historical context. By repeatedly displaying narratives with the most diverse forms of time travel, many episodes of The Twilight Zone allow us to perceive how the changes and the permanences were being criticized, promoted, and lived in the US in the second postwar period. The time travel stories in the series expressed nostalgic impulses, present diagnoses, and future prospects, proposing, in the model created by Rod Serling of a moralistic universe, the re-evaluation of the present time in the US and the rectification of what was seen by Serling against human progress.