Esta tese se dedica ao estudo do fundamentalismo islâmico no Brasil, em especial se há indícios da vertente jihadista, tema ainda opaco nas pesquisas acadêmicas do país e pouco sensível à sociedade brasileira, mais habituada com repercussões globais acerca do assunto. A partir dos recursos metodológicos oferecidos pela história oral e pela cartografia temática, pudemos traçar um perfil de algumas das mais importantes comunidades muçulmanas que aqui se constituíram, que a despeito de seu tamanho reduzido no conjunto da população, têm se expandido para novas regiões fora do eixo sul-sudeste, onde estão consolidadas há mais tempo. O contato com elas foi crucial para conhecermos a forma como elas percebem e reagem a temas sensíveis como o extremismo religioso e aos supostos estigmas aos quais muitas vezes são submetidas. Ainda que seja improvável a tendência de doutrinação jihadista dentro das mesquitas por suas lideranças, dado ao caráter pacífico que manifestam, fora delas há suspeitas sobre a ligação de muçulmanos brasileiros com o Hezbollah (Libanês), com o Estado Islâmico e que se articulam via redes sociais e dispositivos de comunicação. Amparados pela recente lei antiterrorismo (n.13.260/2016), a Polícia Federal e o Ministério Público Federal detectaram indícios e investigaram alguns desses muçulmanos que supostamente integravam células jihadistas. Diante desse quadro, propomos uma reflexão teóricoconceitual para esclarecer as origens, desmistificar os significados e analisar os contextos em que se insere o chamado fundamentalismo islâmico contemporâneo, e investigamos se o Brasil oferece um ambiente fértil para a radicalização islâmica. Ao que parece, a tese de que o autodidatismo religioso, os ambientes virtuais e o oportunismo de alguns dos que seguem islam, associados à modernidade que enseja comportamentos cada vez mais niilistas do ponto de vista filosóficoexistencial, parecem se firmar como o retrato de uma radicalização incompleta, improvável, mas não impossível.

This thesis dedicats itself to the study of Islamic fundamentalism in Brazil. Specifically it inquires if there are signs of a jihadist tendency, a theme still little studied in Brazilian academia and not much discussed in Brazilian society, more accustomed to see the global repercussions of this subject. From using methodological resources offered by oral history and thematic cartography, we sketch a profile of some of Brazils most important Muslim communities. Despite their small size in the population as a whole, these have expanded from the southsoutheast axis, where they have long been consolidated, into other regions. Meeting with representatives of these communities has been crucial to understand how they perceive and respond to sensitive issues, such as religious extremism and the alleged stigmas they are often subjected to. Although jihadist indoctrination by their leaderships is unlikely, given the peaceful character that they manifest, outside the mosques suspicions arise regarding the connection of Brazilian Muslims with the (Lebanese) Hezbollah and/or the Islamic State, through social networks and communication devices. Empowered by the recent antiterrorism law (n.13.260/2016), the Federal Police and the Federal Public Prosecutor's Office have detected some cues and have investigated some Muslims allegedly members of jihadist cells. Given this framework, we develop a theoretical-conceptual analysis clarifying the origins, demystifying the meanings, and discussing the contexts in which the so-called contemporary Islamic fundamentalism is inserted. It seems that religious self-learning, a virtual environment and the opportunism of some of those who follow Islam, link up with a modernity from a philosophical-existential point of view, leads to increasingly nihilistic behaviors. Our investigation if Brazil offers a fertile environment for Islamic radicalization thus leads to the conclusion: an incomplete radicalization, though unlikely, is not impossible.