O tema desta tese é o processo de formação da democracia no Brasil, iniciado durante a desintegração do Estado Novo (1937-1945). Em vez de abordar a democratização a partir da análise das negociações e escolhas estratégicas realizadas pelas elites políticas relevantes em momentos como a Assembleia Constituinte e a estruturação de um novo sistema partidário , enfatizando apenas as dimensões eleitoral e partidária, como prevalece nos estudos de ciência política, este trabalho examina o conflito travado no âmbito da sociedade civil entre as diferentes forças políticas que almejavam o controle daquele processo. A proposta é contemplar outras modalidades de participação política e social dos setores da sociedade sub-representados nas instituições que compõem a democracia representativa, como greves, manifestações públicas e lutas comunitárias. Desse modo, procura-se obter mais elementos para compreender as disputas que envolviam o âmbito econômico e social da democratização. Apesar do consenso entre os brasileiros quanto à necessidade de adoção do regime democrático, a transição para a democracia foi extremamente conflituosa. Diferente do que predomina no debate acadêmico, a tese defendida é que o controle da democratização foi disputado por três, e não duas, forças políticas. O fato de o PCB ter proposto uma aliança a Vargas, antes mesmo de ter retornado à legalidade, não indica que o partido se submeteu aos interesses do ditador. Além de possuírem uma concepção própria quanto à democracia que deveria vigorar no país, os pecebistas formularam um projeto de democratização que se contrapunha às propostas das forças conservadoras e da oposição liberal. Evidências de envolvimento direto e autônomo com a transição para a democracia também são identificadas na atividade política dos trabalhadores urbanos. Logo, novamente em sentido diverso do que prevalece nos estudos sobre essa temática, procura-se confirmar que, na conjuntura do final de 1945, estavam postos à sociedade três, e não dois, caminhos para a realização da democratização, vinculados a diferentes concepções de democracia e visando efetivar projetos de nação distintos. Nesse contexto, mesmo distante das esferas decisórias, a mobilização promovida pelos pecebistas no âmbito da sociedade civil, a fim de efetivar o seu projeto de democratização, influenciou decisivamente a formação e a delimitação do regime democrático que vigorou durante a República de 46

The theme of this thesis is Brazil's democracy formation process, which began during the disintegration of the Estado Novo (1937-1945). Instead of addressing democratization from the analysis of the negotiations and strategic choices made by the "relevant political elites" in periods such as the Constituent Assembly and the structuring of a new party system , this work examines the conflict within civil society between the different political forces that sought to control that process, emphasizing only on the electoral and party dimensions, as it prevails in political science studies. The proposal is to contemplate other modalities of political and social participation from the sectors of society underrepresented in the institutions that make up representative democracy, such as strikes, public demonstrations, and community struggles. Therefore, this work seeks to obtain more elements to understand the disputes that involved the economic and social sphere and democratization. Despite the consensus among Brazilians regarding the need to adopt a democratic regime, the transition to democracy was extremely conflictual. Unlike what prevails in the academic debate, this thesis believes that three, not two, political forces disputed control of democratization. The fact that the PCB proposed an alliance with Vargas, even before it returned to legality, does not indicate that the party submitted to the dictator's interests. Besides having their conception of the democracy that should've been prevailing in the country, the members of PCB formulated a democratization project that was contrary to the proposals of conservative forces and the liberal opposition. Evidence of direct and autonomous involvement with the democratic transition is also identified in the political activity of urban workers. Therefore, again in a different direction from what prevails in studies on this theme, this paper aims to confirm that, in the conjuncture of the end of 1945, there were three, not two, paths to society for the realization of democratization. Each associated with different conceptions of democracy and aiming to carry out different national projects. In this context, even distant from the decision-making spheres, the mobilization promoted by the members of PCB within the scope of civil society to carry out their democratization project, decisively influenced in the formation and delimitation of the democratic regime that prevailed during the Republic of 1946