Esta tese tem como objeto a atividade de construção naval militar realizada no Brasil entre as décadas de 1930 e 1940. Seu objetivo é analisar os fatores que viabilizaram o início da atividade e, também, os que quebraram sua continuidade, nesse período que corresponde, em grande parte, à chamada "Era Vargas" e inclui a depressão dos anos de 1930 e a Segunda Guerra Mundial. O objeto é analisado como parte de uma história de longa duração, caracterizando-se como um dos quatro surtos de construção naval militar do Brasil. O surto pesquisado seguiu-se a outros dois, ocorridos no século XIX, e foi seguido por mais um no último quartel do século XX, todos eles relacionados à necessidade de atualizar o poder naval brasileiro, frente às tensões regionais e globais, com as tecnologias trazidas pelas seguidas revoluções industriais. Quatro elementos interligados são levados em conta nesta análise: as relações internacionais, as necessidades militares, as necessidades de absorção de tecnologias e a situação econômica (brasileira e mundial). Por conta da amplitude desses elementos, também é amplo o conjunto de fontes primárias pesquisadas em arquivos militares, diplomáticos, em periódicos da época, em instalações industriais utilizadas na construção dos navios, em arquivos de personalidades governamentais e, até mesmo, em navios e equipamentos remanescentes. A obra trata de um tema pouco explorado pela História, pois, ainda que o reequipamento militar brasileiro na época seja tratado como relevante em trabalhos de natureza histórica sobre economia e política externa, em geral são levadas em conta as demandas do Exército, e não da Marinha. A tese busca, assim, preencher uma lacuna na historiografia. A principal hipótese defendida é que as razões para a descontinuidade da construção naval militar brasileira, ao final do surto, estavam nas próprias circunstâncias e decisões que a viabilizaram, tornando a continuidade ainda mais difícil do que sua largada.

The subject of this thesis is the military shipbuilding activity carried out in Brazil between the 1930s and 1940s. Its objective is to analyze the factors that enabled the beginning of the activity and, also, the ones that broke its continuity, during a period that corresponds, in most part, with the so-called "Era Vargas" and includes the depression of the 1930s and World War Two. The object is analyzed as part of a long-lasting history, and its characterized as one out of four outbreaks of military shipbuilding in Brazil. The surveyed outbreak followed two others which occurred at the 19th century. It was also followed by another one, in the last quarter of the 20th century. All of them are related to demands for updating Brazilian Naval Power with new Technologies, brought from the continued industrial revolutions, facing times of regional and global tensions. Four interconnected elements are taken into account in this analysis: international relations, military needs, the need to absorve Technologies and the economic situation (domestic and worldwide). The breadth of these elements matches an extensive search for primary sources, researched in military and diplomatic archives, newspapers of that time, industrial facilities used in shipbuilding, governmental personalities archives, and even at remaining ships and equipment. The thesis deals with a subject still very unexplored by History: although the Brazilian military renewal at that time is treated as a relevant subject in economics and foreign policy researches, usually only the demands of the Army are taken into account, not the ones from the Navy. So this thesis seeks to fill a gap in historiography. The main hypothesis defended here is that the reasons for the discontinuity of Brazilian military shipbuilding, at the end of the outbreak, were in the very circumstances and decisions that made it feasible, thus making continuity even more difficult than its start.