Por muitas décadas a existência afroargentina foi socialmente invisibilizada e reforçada a ideia de uma Argentina estritamente branca, correspondente a um ideário brancocentrado que tem como referência a Europa e sua origem na cidade de Buenos Aires no século XIX, após o processo de independência. Nesse contexto, destacamos a criação do Estado-nação e, em particular, de um Projeto Político Nacional que, no caso das sociedades latino-americanas, sofreu fortes influências europeias, sobretudo porque a ideia de nação é uma construção ocidental. Isso significa dizer que, para criar uma identidade nacional, foi preciso idealizar e valorizar um povo, uma história e um mito que no caso argentino, teve fundamento na migração europeia do século XIX em detrimento da negação e invisibilização da população negra e indígena. Desse modo, a presente pesquisa buscou problematizar as relações raciais na Argentina, sobretudo na cidade de Buenos Aires, de maneira a enegrecer as narrativas oficiais e contar a história silenciada. Para isso, nos utilizamos das categorias geográficas espaço e tempo e da categoria político-cultural de amefricanidade para evidenciar as territorialidades negras no espaço urbano portenho. A partir desse movimento e da literatura consultada, foi possível identificar e localizar os antigos bairros negros da cidade de Buenos Aires e constatar sua relação com o processo de formação da cidade, de forma a desvelar o papel da população afro-diaspórica na constituição política, econômica e cultural de Buenos Aires.

For many decades, Afro-Argentine existence was socially made invisible, reinforcing the Argentinean whiteness idea, corresponding to a white-centered ideology with Europe and its origins in Buenos Aires city in the 19th century, following the independence process. In this context, the nation-state creation emphasis and the specific National Political Project in Latin American societies were strongly influenced by Europe, mainly because of the Western construction of the nation. Creating a national identity, the European narrative idealized and valorized a people, a history, and a myth based on white European migration in the 19th century. This colonial strategy imposes Argentinian society deny and invisibilize the black and indigenous population. Thus, this research search to problematize racial relations in Argentina, particularly in Buenos Aires City, to "blacken" the (official) narratives and tell the silenced history. The research methods are the geographical categories of space and time and the political-cultural category of amefricanity to highlight black territorialities in the urban area of Buenos Aires. Through these methods and the literature review, it was possible to identify and locate the former old black neighborhoods of the city of Buenos Aires and ascertain their relationship with the city's formation process to unveil the role of the Afro-diasporic population in the political, economic, and cultural constitution of Buenos Aires.