Este trabalho analisa a luta pela terra de uma comunidade de camponeses ribeirinhos, no contexto do desastre da Samarco. Trato da comunidade de Entre Rios, localizada na foz do rio Doce, no Estado do Espírito Santo. É importante estabelecer esta discussão tendo em vista a construção de uma abordagem que leve em consideração a totalidade social e seus conflitos eminentes, em que a comunidade de Entre Rios é vista enquanto classe camponesa reproduzindo-se contraditoriamente sob o modo capitalista de produção. Em virtude do processo de autoidentificação como Ribeirinhos da comunidade de Entre Rios, num conflito por terra contra a empresa União Engenharia e Montagem, mobilizei as discussões em torno da reprodução de grupos sociais do campo. O território como expressão da luta de classes, as relações não capitalistas de produção capitalista e o debate sobre os povos tradicionais, orientaram meu esforço de avaliar um conjunto de processos territoriais. Tais processos, através de minha abordagem, tem girado em torno dos temas de identidade e luta de classes, a política brasileira dos governos do Partido dos Trabalhadores e a atualidade da questão da reforma agrária. Construí esta avaliação, tendo o momento histórico atual marcado pelo neoliberalismo e a crise do capital, para pensar o processo da luta encampada pela comunidade de Entre Rios. Todavia, o processo de luta ganha contornos atuais após o rompimento da barragem de rejeitos pertencente à Samarco Mineração, pois esta comunidade tornou-se atingida pela lama de rejeitos despejada no rio Doce em virtude de tal rompimento.

This paper analyzes the struggle for land in a community of riverside peasants, in the context of the Samarco disaster. I deal with the community of Entre Rios, located at the mouth of the Doce River, in the State of Espírito Santo. It is important to establish this discussion with a view to building an approach that takes into account the social totality and its eminent conflicts, where the community of Entre Rios is seen as a peasant class reproducing itself contradictorily under the capitalist mode of production. Due to the process of self-identification as Ribeirinhos of the Entre Rios community, in a conflict over land against the company União Engenharia e Montage, I mobilized the discussions around the reproduction of social groups in the countryside. The territory as an expression of the class struggle, the non-capitalist relations of capitalist production and the debate about traditional peoples, guided my effort to evaluate a set of territorial processes. Such processes, through my approach, have revolved around the themes of identity and class struggle, the Brazilian politics of the Workers' Party governments and the current issue of agrarian reform. I built this assessment, having the current historical moment marked by neoliberalism and the capital crisis, to think about the process of struggle taken on by the community of Entre Rios. However, the fighting process takes on current contours after the tailings dam belonging to Samarco Mineração has broken down, as this community has been affected by the tailings mud that was discharged into the Doce River as a result of such a breach.