Durante a pandemia de Covid-19, a cidade de São Paulo se transformou em um grande canteiro de obras a céu aberto. Do dia para a noite, numerosos estabelecimentos e casas foram demolidos e abriram terreno para o surgimento de novos empreendimentos imobiliários. Nesta pesquisa buscamos analisar o boom imobiliário residencial que aconteceu na cidade no decurso da denominada "crise do coronavírus". Nosso objetivo consistiu em identificar os fatores que alavancaram este processo e os seus impactos, levando em consideração suas determinações críticas e negativas. No contexto em que a circulação mundial do vírus agravou a crise fundamental do capitalismo, ocorreu um afluxo de investimentos especulativos no setor imobiliário residencial. Analisamos as condições estruturais e conjunturais que possibilitaram o barateamento e a multiplicação do crédito imobiliário urbano, uma forma específica de capital fictício, essencial para a reprodução crítica do capitalismo em seu estágio final. A partir do acompanhamento "em tempo real" de fontes como jornais da mídia digital e impressa e da revisão bibliográfica de artigos e relatórios dedicados aos negócios imobiliários durante a pandemia, procuramos estudar a intensificação, ocorrida no período, das transformações da cidade de São Paulo, que a caracterizaram, como nunca antes, como um grande negócio de capitalização monetária. Identificamos que o boom imobiliário pandêmico apresentou inúmeras facetas, como o boom dos microapartamentos, um produto imobiliário de alta capitalização imobiliária e financeira intimamente interligado à dinâmica do capital fictício global. Neste período, a construção civil não paralisou suas atividades, sendo classificada como "atividade essencial" para a retomada econômica. Com base em entrevistas realizadas nos canteiros de obras do programa Casa Verde e Amarela e no levantamento de dados nas fontes já referidas, foi possível constatar também o boom de trabalhadores da construção mortos no desenrolar desta "explosão" imobiliária. Procuramos discutir igualmente o boom de demolições urbanas durante a pandemia, relacionando-o aos processos imobiliários mais amplos e levantando algumas de suas consequências para a experiência urbana dos sujeitos que vivem e percebem a cidade a partir do perturbador estranhamento que as constantes demolições lhes infligem.

During the Covid-19 pandemic, the city of São Paulo turned into a large open-air construction site. From day to night, numerous establishments and houses were demolished and opened the ground for the emergence of new real estate developments. In this research, we seek to analyze the residential real estate boom that took place in the city during the so-called "coronavirus crisis". Our objective was to identify the factors that leveraged this process and its impacts, taking into account their critical and negative determinations. In the context in which the worldwide circulation of the virus aggravated the fundamental crisis of capitalism, there was an influx of speculative investments in the residential real estate sector. We will analyze the structural and conjunctural conditions that made possible the cheapening and multiplication of urban real estate credit, a specific form of fictitious capital, essential for the critical reproduction of capitalism in its final stage. Based on a "real-time" study of materials such as newspapers in digital and print media, a bibliographic review of articles and specialized reports on real estate business during the pandemic, we study how in this period an intensification of the transformation of the city of São Paulo into a Big money capitalization deal. We identified that this pandemic real estate boom involved numerous facets. We will present the micro-apartment boom in this context, a real estate product of high real estate and financial capitalization closely intertwined with the dynamics of global fictitious capital. In this period, civil construction did not paralyze its activities, being classified as an "essential activity" for economic recovery. Based on interviews carried out at the construction sites of the "Casa Verde e Amarela" program and on data collection, we were able to verify a boom in construction workers killed in the course of this real estate "explosion". We also discussed the urban demolition boom during the pandemic and its impacts on the urban experience of subjects who increasingly experience the city as estrangement.