Descreve-se aqui o processo de arranjo de três conjuntos de documentação de pesquisa, reunidos por etnólogos que iniciaram seus trabalhos de campo entre povos indígenas no Brasil no final dos anos 1960: Lux Vidal, Pedro Agostinho e Rafael de Menezes Bastos. A decisão de enfocar o processo de arranjo destes materiais – raramente tematizado de modo direto na história da antropologia, tampouco em estudos dedicados à crítica do dispositivo do arquivo – se deve à constatação de que, aproximando-nos de 50 anos desde o estabelecimento de um sistema de pós-graduação em antropologia social no Brasil, multiplicam-se as destinações de acervos pessoais de antropólogos a instituições de custódia e guarda. O tratamento de tais conjuntos documentais exige uma observação detida dos modos como se caracterizam documentos e arquivos, dos itinerários e dos processos de conhecimento movimentados por pessoas e coletivos que produzem e reúnem documentos, bem como dos direitos conexos nos termos da legislação brasileira e nos termos das coletividades junto às quais trabalha cada pesquisador. Do ponto de vista teórico-metodológico, este trabalho experimenta em modo narrativo as diferentes declinações da noção de documento na pesquisa antropológica e na lida com os arquivos que ela produz, bem como possibilidades de aproximação ao vocabulário e a processos estabelecidos na disciplina da arquivologia. Pesquisa desenvolvida com bolsa Capes junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de São Paulo.

The thesis describes the preliminary arrangement of three documental sets gathered by ethnologists, Lux Vidal, Pedro Agostinho, and Rafael de Menezes Bastos, who started their fieldwork among indigenous peoples in Brazil in the late 1960s. The decision to describe the process of arranging such materials – scarcely discussed in a direct manner in the history of anthropology, particularly in Brazil, and neither in the critical studies of the archival device – is due to the realisation that, approaching fifty years since the establishment of a post-graduate training system in social anthropology in Brasil, the transference of personal files of anthropologists to universities and other institutions wil increase exponentially in the near future. In order to tend to these documental sets in this context, a dedicated observation is required of the ways by which documents and files, itineraries and knowledge processes put into motion by persons and collectives who make and gather documents are characterized. The consideration of related rights in the terms of Brazilian legislation and in the terms of the colectivities among which each researcher has worked is also unavoidable. From a theoretical as well as a methodological perspective, this work experiments in a narrative manner with the different declinations of the notion of document in anthropological research and in its dealings with the archives itself gathers, tantamount to possibilities of approximation with the vocabulary and the processes established in the archival discipline. This research was developed with a Capes scholarship in the Social Anthropology Post-Graduate Program, at the University of São Paulo.