Esta dissertação vislumbra momentos de distintas histórias de vida e questiona, à luz delas, sobre a particularidade do mundo onde elas têm lugar, o mundo andino urbano contemporâneo de La Paz e El Alto, Bolívia. O lugar onde conheci as pessoas que compõem estas páginas foi o centro de medicina ancestral chamado Casa Ajayu. Duas das oficinas hospedadas pela Casa serão objetos de esforço narrativo e analítico, mas os caminhos dos meus interlocutores nos levarão para além das paredes do centro. O primeiro momento deste trabalho abre a questão de como a forma de política comunitária apoiada por projetos coletivos urbanos como a Casa Ajayu implica na relação entre cura, conhecimento e descolonização, bem como na concepção do espaçotempo de transformação mundial chamado pachakuti. O segundo momento busca localizar o entrelaçamento de meus interlocutores na história da migração urbana indígena atendendo às perspectivas daqueles que a herdam, acompanhando suas reflexões sobre os temas de perda, doença e ruptura e da forma de alteridade social associada à vida na cidade. Finalmente, nossa atenção se volta para as reflexões públicas de alguns dos yatiris (em aymara, conhecedores, curandeiros) que foram associadas à Casa, no esforço de identificar os termos pelos quais o retorno, entendido como a restituição de relações com lxs ancestrxs e a recomposição de uma comunidade mais-que-humana capaz de sustentar a própria vida, pode tornar-se uma questão de interesse comum para o público metropolitano

This dissertation glimpses moments of distinct life stories and asks, in light of them, about the particularity of the world where they take place, the contemporary urban Andean world of La Paz and El Alto, Bolivia. The place where I met the people who compose these pages is the center of ancestral medicine called Casa Ajayu. Two of the workshops hosted by the Casa in which I was a participant will be the object of narrative and analytical effort, but the paths of my interlocutors will take us well beyond the walls of the center. The first moment of this work opens the question of how the form of communitarian politics supported by urban collective projects like Casa Ajayu implicates the relation between healing, knowledge and decolonization, as well as the conception of the space-time of world change called pachakuti. The second moment seeks to situate the entanglement of my interlocutors within the history of indigenous urban migration by attending to the perspectives of those who inherit it, accompanying their reflections on the themes of loss, illness and rupture and the form of social alterity associated with life in the city. Finally, our attention turns to the public reflections of some of the yatiris (in aymara, knowers, healers) that were associated with the Casa in an effort to identify the terms by which return, understood as the restitution of relations with the ancestors and the recomposition of a more-than-human community capable of sustaining life itself, may become a matter of common concern to the metropolitan public