Este trabalho propõe uma interpretação das transformações nas práticas químicas no século XVIII à luz dos valores, compreendidos como objetivos ou ideais da atividade científica. Estes valores podem ser cognitivos ou não cognitivos e sua análise permite uma adequada contextualização dos desenvolvimentos da disciplina na sociedade europeia nos debates e práticas relacionados ao processo de conhecimento e às ciências do período. A análise foi empreendida a partir do Modelo de Interação entre Ciência e Valores (M-CV), apresentado por Lacey e Mariconda e nos permitiu constatar que a autonomia, o progresso e o liberalismo individual e o controle da natureza faziam parte da perspectiva de valores dos homens e mulheres de ciência no período, e que entre os valores cognitivos estavam o empirismo, a simplicidade, e a exaustividade. Notamos também a centralidade do controle da natureza e do empirismo nas perspectivas de valores dos químicos, bem como as relações próximas entre estes valores, uma vez que o valor não cognitivo do controle da natureza demandava o valor cognitivo do empirismo. Como mostramos, Lavoisier realizou uma alteração na forma como o empirismo era articulado e expresso que lhe conferiu um caráter objetificador a partir do qual este valor passou a atuar também como elemento de justificação do próprio valor do controle da natureza. Este movimento foi crucial para a química e para boa parte da atividade científica contemporânea. A abordagem dos estilos de pensamento de Fleck possibilitou além disso, ressaltar a dimensão normativa constitutiva e o ancoramento social das práticas químicas no período. Consideramos que a história de uma ciência é formada por um complexo de níveis e elementos, ao passo que o foco do estudo são as práticas científicas e não exclusivamente as teorias, portanto buscamos também uma adequada apreensão além da axiologia, de aspectos normativos que regeram a atuação dos químicos no período.

This work presents an interpretation of the transformations in chemical practice through the 18th century in the light of values, understood as objectives or ideas of scientific activity. These values can be cognitive or not and their analysis allows an adequate contextualization of the developments of the discipline in European society in the debates and practices related to the process of knowledge and the sciences of the period. Our analysis was undertaken based on the Model of Interaction between Science and Values (M-CV), presented by Lacey and Mariconda and allowed us to confirm that autonomy, progress and individual liberalism took part in the values perspectives of men and women of science, as well as the cognitive values of empiricism, simplicity and completeness. We were able to notice also the central role of the values of control of nature and empiricism in the values perspectives of chemists, as well as the close relationships between these values, since the non-cognitive value of control of nature demanded the cognitive value of empiricism. As we show, Lavoisier operated a change in the way in which empiricism was articulated and expressed granting it an objectifying character from which this value became also an element of justification of the very value of the control of nature. This movement was crucial for chemistry and for much of contemporary scientific activity. In addition, Fleck's thought style approach enabled us to highlight the normative dimension constitutive of chemical practices and their social ingraining. The work was produced under the consideration that the history of a science is formed by a complex of levels and elements, and the focus of study are the scientific practices and not exclusively theories, therefore we've also sought an adequate apprehension beyond axiology, of aspects norms that governed the performance of chemists in the period.