À primeira vista, a Dialética negativa (1966) de Theodor W. Adorno parece refratária a qualquer sentido político, pois nega a possibilidade de uma passagem para a práxis e se dedica a uma autorreflexão filosófica sobre as principais categorias idealistas. Não obstante, Adorno está interessado em uma atividade teórico-filosófica que seja capaz de resguardar a possibilidade de crítica social no mundo administrado através de uma espécie de pensamento utópico. A hipótese deste trabalho é que as noções de utopia e crítica da identidade, presentes na Dialética negativa explicitamente em um sentido epistemológico, seriam capazes de abrir também sua dimensão política. Elas seriam as chaves para entender como a Teoria Crítica de Adorno poderia conservar ainda os impulsos iniciais do interesse político da Teoria Crítica que, de acordo com sua herança marxista, tem por objetivo não apenas a crítica da sociedade capitalista, mas também a perspectiva fundamental de emancipação humana. Além disso, ao proceder uma crítica minuciosa da identidade como princípio do pensamento, Adorno poderia contribuir para a compreensão do deslocamento histórico recente deste conceito do campo da lógica/epistemologia para o da ética/política. Por fim, propomos uma aproximação entre a crítica adorniana ao pensamento da identidade e a crítica pós e decolonial ao colonialismo moderno, buscando um modelo de compreensão e de atualização da dialética negativa em sua dimensão epistemológica e política.

At first glance, Theodor W. Adorno's Negative Dialectics (1966) seems absent from any political meaning, since it denies the passage to praxis and is dedicated to a philosophical self-reflection on the main idealist categories. Nevertheless, it proposes a theoretical-philosophical activity that is conceived as a placeholder for the possibility of social criticism in the administered world through a sort of utopian thought. The hypothesis of this work is that the notions of utopia and critique of identity, present in Negative Dialectics explicitly in an epistemological sense, would also be able to open its political dimension. They would be the keys to understanding how Adorno's Critical Theory could still preserve some impulses of the political interest of Critical Theory which, according to its Marxist heritage, aims not only at the critique of capitalist society, but also the fundamental perspective of human emancipation. Furthermore, by carrying out a thorough critique of identity as a principle of thought, Adorno could contribute to the understanding of the recent historical shift of this concept from the field of logic/epistemology to that of ethics/politics. At the end, we propose a convergence between the Adornian critique of identity thinking and the Post- and Decolonial critique of modern colonialism, seeking a model for understanding and updating the negative dialectics in its epistemological and political dimension.